Ídolo dos 1980 não quer saber de nostalgia: Fórmula 1 precisa se renovar

Ele foi um dos grandes pilotos dos anos 1980, mas não quer saber de nostalgia. Defensor da tecnologia usada na Fórmula 1 atual, Alain Prost admite que os carros estão fáceis demais de pilotar, mas pede que a categoria olhe para o futuro, e não para o passado.

Atualmente embaixador da Renault e comentarista da TV francesa, Prost quer que a Fórmula 1 aposte na conquista de novos fãs. “Acho que a percepção que a categoria tem é errada. As pessoas gostam de barulho? Mas não existe mais! São pessoas nostálgicas em relação aos anos 80. É um público não renovado e é por isso que eles se entediam, porque são as mesmas pessoas de sempre. Temos de atrair pessoas, para que elas vejam as novas coisas que foram trazidas ao esporte.”

Prost se refere aos motores V6 turbo híbridos, que estrearam na temporada passada. “É uma tecnologia fantástica e não se fala muito disso, ou talvez ela não tenha sido explicada do jeito certo. Temos de deixar as coisas mais claras e mostrar por que chegamos até aqui”, defende.

“Os motores ganharam espaço, mas era isso que todos queriam, os fabricantes”, lembra. “A prova disso é que, se não houvessem essas regras, acho que a Renault teria parado. A Mercedes não teria se envolvido tanto e nem a Honda, com certeza.”

O tetracampeão, contudo, acredita que um ponto que pode ser melhorado é a dificuldade em se pilotar os carros. “Eu tiraria muito da pressão aerodinâmica e faria com que os carros fossem mais difíceis de pilotar. E certamente um pouco mais de potência não seria ruim. Mas isso não é tudo. Já outras coisas: você tem de trazer de volta a credibilidade à Fórmula 1 para atrair gente mais jovem.”

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Do DNA da F-1, só resta o GP da Itália. E ele é o próximo alvo de Bernie

Se você procurar nos livros de história, a primeira corrida a carregar o nome de “Grande Prêmio” aconteceu no fim de junho de 1906 em estradas próximas à cidade de Le Mans, na França. Foi disputada em dois dias, com seis voltas em cada um deles, num percurso total de mais de 1.200 quilômetros. Uma verdadeira maratona de resistência vencida ao final pelo húngaro Ferenc Szisz com um Renault.

O grid contou com 32 carros fabricados em apenas três países: França, Alemanha e Itália. Neles se concentravam a indústria automobilística em seu nascimento, com o esporte a motor surgindo ao mesmo tempo. São estas três nações que formam o DNA do automobilismo.

Mais de um século depois, a chance da Fórmula 1 perder este seu código de origem é muito grande. O último GP da França aconteceu em 2008. Neste ano, o calendário não terá a prova da Alemanha. O atual contrato de Bernie Ecclestone com o GP da Itália se encerra no final do ano que vem e ele já avisou que não pretende renovar porque o acordo “é comercialmente um desastre”. O chefão da categoria parece mesmo querer acabar com o pouco que ainda resta de tradição nela.

O modelo praticado por ele é insustentável para muitos países. Ecclestone cobra uma taxa caríssima, com reajustes anuais extorsivos, apenas para que o organizador tenha o direito de realizar a prova. Este assume também todos os custos para sua realização. Na realidade econômica atual, são poucos os que se arriscam a fazer isso.

Especialmente na Europa, onde a ajuda governamental é praticamente inexistente, a situação é complicada. Os GPs da Áustria (Red Bull) e da Bélgica (Shell) sobrevivem pelo investimento de empresas privadas. A prova na Hungria acontece por uma relação especial de Ecclestone com os organizadores e o GP de Mônaco tem o privilégio de não pagar taxa nenhuma para, em troca, oferecer o cenário onde a maior dos negócios milionários que envolvem a categoria.

Enquanto isso, Espanha, Inglaterra e Itália fazem das tripas coração para manter os seus eventos. Já a corrida em Nürburgring se junta a uma lista longa de organizadores privados que não conseguiram sobreviver ao modelo de Ecclestone, sendo os GPs da Índia e da Coreia do Sul os exemplos mais recentes disso.

O GP da Alemanha pode até voltar no ano que vem em Hockenheim, mas também não é sustentável a longo prazo – no ano passado, o prejuízo dos organizadores foi enorme. As conversas sobre o futuro do GP da Itália prosseguem. Mas caminham também para o fim da corrida após 2016 – a organização não tem como pagar mais e Ecclestone não vai abaixar o valor pedido.

Negando sua origem, a F-1 caminha para deixar meia dúzia de milionários um pouco mais ricos, enquanto se afasta completamente do seu torcedor.

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Brasil é um dos últimos lugares do mundo com F-1 ao vivo e de graça na TV

Assistir às corridas da Fórmula 1 ao vivo e em canais abertos, como acontece com a Rede Globo no Brasil, é cada vez mais raro ao redor do mundo. Seguindo diretrizes dos detentores de direitos comerciais da categoria, que buscam garantir contratos lucrativos com as TVs pagas, a temporada de 2015 será vista da mesma maneira que no Brasil em apenas outros nove países. E, em pelo menos um deles, a Espanha, isso vai acontecer pela última temporada em 2015.

Por enquanto, a transmissão da categoria em TV aberta está garantida no Brasil até 2020, segundo a Rede Globo. O contrato foi renovado junto do pacote que garantiu o GP em Interlagos até o mesmo ano e é um negócio lucrativo para a emissora, que ganha, apenas em cotas de patrocínio, mais de R$ 400 milhões com as transmissões.

A audiência no Brasil é atualmente de 15 pontos em média. A primeira etapa do mundial de 2015, disputada na madrugada pelo horário local, registrou 5 pontos, contra 3 do ano passado. Apesar de não se comparar com o desempenho de 10 anos atrás, quando chegava a 20 pontos por prova, representa um dos grandes mercados da categoria no mundo.

F-1 ´privatizada’
Mas a realidade brasileira está longe de ser regra ao redor do mundo. Na Europa, berço da categoria, fãs de vários países tradicionais já tiveram de se acostumar com a mudança. A Fórmula 1 continua grátis na Áustria, Bélgica, Hungria, Eslovênia, Eslováquia e na Espanha. Índia, Paquistão e Austrália completam a lista. Nem sempre, porém, todas as provas são transmitidas na íntegra e é comum emissoras colocarem comerciais no meio da transmissão, algo que não ocorre no Brasil.

Outros países, como Inglaterra e Itália, contam com um sistema de rodízio (tendo metade da temporada com transmissão ao vivo na TV aberta) ou totalmente pago. No Brasil, em algumas oportunidades especialmente nos últimos quatro anos, algumas provas também têm ficado de fora da Globo. Foi assim com os GPs do Canadá de 2011 e 2013 e nos EUA nos últimos três anos, sempre devido à preferência por jogos do Campeonato Brasileiro. O GP da Hungria de 2013 também não foi exibido, em detrimento do encerramento da Jornada Mundial da Juventude.

A variação dos preços pela assinatura anual impressiona. Os petrodólares dos Emirados Árabes Unidos não pagam somente pela prova mais cara da temporada, em Abu Dhabi, como também pela transmissão de maior valor. Uma assinatura anual para ver a F-1 por lá custa mais de R$ 6.000. Nos Estados Unidos, país em que a audiência da categoria tem crescido de maneira mais significativa, o preço é de R$ 2.000.

Coincidência ou não, paralelamente ao crescimento da Fórmula 1 na TV paga ao redor do mundo, a audiência da categoria vem caindo. Os últimos números mostram um decréscimo de 5,6%, de 450 milhões de espectadores no mundo todo para 425 em 2014. As perdas aconteceram inclusive na Inglaterra (em 5,2%), país de grande tradição no esporte e terra do campeão Lewis Hamilton. Lá, quem quiser acompanhar a temporada inteira tem de desembolsar quase R$ 2.500.

De Julianne Cerasoli

Do UOL, em São Paulo

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