Para que bem entendamos e memorizemos a história do Brasil, costuma-se separá-la em ciclos, que representam fatos importantes de uma época determinada, sob determinados aspectos.
Sob o aspecto econômico nosso país conheceu, dispensado o rigor da ordem, o ciclo do pau-brasil, da borracha, do ouro, do café, da cana-de-açúcar e muitos outros.
Dos citados, além do café, apenas o da cana-de-açúcar não tinha caráter extrativista, pois demandava tratos culturais e plantio em áreas cada vez maiores para atender principalmente o mercado externo, altamente importador de açúcar.
O nordeste brasileiro, Pernambuco à frente, foi escolhido para abrigar os extensos plantios em virtude da proximidade com o continente europeu. E lá nasceu uma casta composta dos senhores de engenho, patenteados de coronéis da guarda nacional, cuja força política era tão grande que não permitia a expansão da cana-de-açúcar para o resto do país, principalmente para o sudeste.
A estrutura da exploração canavieira era toda calcada na mão-de-obra escrava, que após a abolição pouca alteração sofreu e o regime passou a ser de semi-escravidão: povo paupérrimo explorado por uma classe dominante proprietária de extensas áreas de terras, que inclusive mandava no governo central.
Os resquícios disto estão até hoje presentes na vida republicana.
Mas se o sul/sudeste abriu mão da economia açucareira e da força política em prol dos canavieiros nordestinos, foi aquinhoado em contrapartida com a vinda dos imigrantes cuja mentalidade agrícola priorizava a pequena propriedade, a policultura e o trabalho livre e remunerado, com evidente distribuição de renda, responsável juntamente com a indústria florescente, pelo progresso então sentido.
Sob o governo de Juscelino na década de 50/60 do século XX, com o incentivo à industrialização, principalmente a automobilística, a construção de Brasília e os 50 anos em 5 propostos por JK, grandes levas de nordestinos aportaram no sul/sudeste, aqui encontrando uma estrutura fundiária composta de pequenas propriedades onde plantava-se e colhia-se de tudo.
Numa destas levas veio Luiz Inácio da Silva que vendo tanta pujança, se não pensou, cantou plagiando Chico Buarque de Holanda:
Ai esta terra vai seguir seu ideal
Vai se tornar um imenso canavial…..
Muita água passou debaixo da ponte até que um neo-liberal, muito letrado e culto de quem se esperava um governo revolucionário no bom sentido, foi eleito e para tristeza geral da nação, que dele muito esperava, foi um fracasso, dizimando os bens públicos e beneficiando os privilegiados de sempre.
Em contraposição a um neo-liberal culto e letrado, o povo por “vingança” votou num iletrado dentro da lógica “o inverso é melhor” que sem projeto algum de governo, ressuscitou o velho sonho de tornar o país um grande latifúndio, onde plantando cana, álcool dá. A começar pelo Sudeste “maravilha”.
Mas a roda do destino, pela segunda vez falou mais alto. As dezenas de novas usinas e os muitos alqueires de cana plantados por este Brasil, correm o risco de serem atropelados pela crise que assola o planeta, obrigando os proprietários de terras a repensar a finalidade social da terra.
Este artigo foi escrito ante um simpósio sobre biocombustíveis promovido pela central dos plantadores de cana e teve Dilma Roussef como garota-propaganda. Sem ter muito a mostrar, o encontro apresentou carros flex iguais aos que vemos diariamente nas ruas, um ônibus movido a álcool, que tem muito pouca chance de se tornar viável e um carro de Fórmula Um, que parecia feito de papelão. Serão os efeitos da crise?
Luiz Bosco Sardinha Machado