Pesquisa sobre câncer e menopausa sinaliza para uma nova possibilidade de tratamento

Estudos do professor Jaime Kulak de departamento de Tocoginecologia da UFPR contribuem para novas perspectivas de tratamento da menopausa.

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Milhares de mulheres em idades aproximadas dos 49 aos 51 anos sofrem hoje dos desconfortos causados pelo climatério, como é chamada a fase da menopausa, por evitarem tratamentos de reposição hormonal. O grande número de mulheres que resistem a esses tratamentos é justificado pelo temor de que possam contrair câncer de útero ou de mama.

“Doutor, eu não quero esse tratamento por causa câncer”, dizem muitas pacientes nos consultórios médicos, segundo o professor do Departamento de Tocoginecologia da UFPR Jaime Kulak Junior. Ele pesquisa o climatério há mais de uma década e neste ano desenvolveu seus estudos de doutorado, como bolsista da Capes, no Laboratório de Pesquisa do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade de Yale nos Estados Unidos, em parceria com o médico Hugh S. Taylor.

Seu doutorado, que no Brasil é realizado na Universidade de São Paulo (USP), no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da USP de Ribeirão Preto, tem orientação do professor Rui Ferriani. Intitulada “Tissue Selective Estrogen Complexes (TSECs) Modulate Markers of Proliferation in Uterine and Breast Cancer Cells”, a pesquisa foi destaque no Congresso Americano de Reprodução Humana, em outubro, com repercussão entre sites internacionais de divulgação científica na área de Ginecologia e Menopausa.

Nessa pesquisa, culturas de células de câncer de mama foram tratadas com estradiol em associação com Moduladores Seletivos do Receptor do Estrogênio (SERMS). Existem dois tipos de moduladores atualmente no mercado, o Tamoxifeno e Raloxifeno e outros dois em fase de estudos, o Bazedoxifeno e o Lazofoxifeno. É justamente com a associação entre o Estrogênio e SERMS que foi objeto dos estudos de Jaime, em animais e em cultura de células. A conclusão foi que alguns destes SERMS são capazes de bloquear o efeito proliferativo do estradiol nesta linhagem celular e também em células endometriais, ou seja, podem sinalizar uma alternativa real de tratamento sem o risco da incidência de câncer. “A pesquisa indica que é possível que a combinação certa entre SERMS e estradiol possa tratar os sintomas da menopausa reduzindo o risco de câncer de mama”, explica o médico.

A hipótese aventada pelo pesquisador ainda deve ser testada em estudos clínicos, mas sinaliza que num curto prazo a nova alternativa poderá ser uma das soluções de tanto desconforto da menopausa. Mais: não bastassem os calorões, alteração de sono e humor, desconforto na vida sexual, as mulheres sofrem também conseqüências de médio prazo: “Aproximadamente 70% das mulheres que fiquem cinco anos na menopausa sem tratamento de reposição hormonal têm até 30% de perda de massa óssea, por deficiência do estrogênio”, explica Jaime, salientando que toda essa perda é silenciosa, a mulher não sente nenhum sintoma.

Os projetos do pesquisador continuarão a partir de agora no Laboratório de Endocrinologia Molecular do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital de Clínicas da UFPR. A nova unidade está em fase de desenvolvimento e deverá entrar em funcionamento no próximo ano.

Leticia Hoshiguti

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