Uma fábula exemplar

Por José Augusto Carvalho*

George Orwell é autor de uma fábula notável chamada Animal farm: os bichos de uma granja, liderados pelos porcos, revoltaram-se contra o que diziam ser a escravidão que o homem lhes impunha, expulsaram o dono da granja e organizaram um governo comandado pelos porcos. A antiga Granja do Solar, como era chamada, passou a ser a Granja dos Bichos. Os porcos, no entanto, após a conquista do poder, dominaram os animais ditatorialmente, desrespeitando os ideais da sua revolução e escravizando seu povo. Como não podiam viver isolados do resto do mundo, os porcos acabaram associando-se aos homens, e a granja retomou o nome antigo de Granja do Solar. Durante um congresso entre porcos e homens, os bichos não conseguiam mais distinguir entre os congressistas quem era porco e quem era homem.

Um dos personagens centrais dessa fábula é um cavalo chamado Sansão. Trabalhava para o governo dos porcos incansavelmente, mas, quando ficou doente, o governo, em vez de aposentá-lo, mandou-o para o matadouro.

A fábula se presta a muitas interpretações, como toda obra literária. Mas uma lição se pode aproveitar dela, à guisa de moral que toda fábula deve ter: quando querem chegar ao poder, os porcos prometem mundos e fundos. Uma vez no poder, traem os ideais que defenderam, oprimem o seu povo, desprezam o trabalhador incansável e ajudam-no a morrer.

Uma deputada federal capixaba, Iriny Lopes, declarou publicamente ter votado contra os aposentados em desacordo com as próprias convicções que a levaram a filiar-se ao PT, sob a alegação de que estava cumprindo as decisões do partido. Embora dizendo-se arrependida, tornou a agir em desacordo com a própria consciência, votando novamente contra os aposentados. Agir contra a consciência é não apenas uma violência contra si mesmo, mas também um atentado à ética.

Quero crer que os únicos petistas que se mantiveram fiéis aos ideais que o PT sempre defendeu foram exatamente os que acabaram expulsos do partido.

A vida imita a arte. Por causa de caras-de-pau como a deputada petista acima mencionada, o povo, como na fábula de George Orwell, acaba não conseguindo mais distinguir entre os congressistas quem é porco de quem é gente.

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