Doença contraída pelo beijo na boca é difícil de ser diagnosticada.
DÉBORA YURI
colaboração para a Folha de S.Paulo
“Não sei se eu vou beijar menos meninas agora, porque você só pega essa doença uma vez na vida, mas ela é muito ruim, horrível”, diz Alexandre Turoni Zaparoli, 14, que saiu do consultório médico com o seguinte diagnóstico: “doença do beijo”.
Trata-se do nome popular da mononucleose infecciosa, doença transmitida pelo vírus Epstein-Barr, que afeta principalmente adolescentes e adultos de até 30 anos. “Ela ocorre mais nessas faixas etárias porque, depois, quem tinha de pegá-la já pegou. É difícil passar por todas essas fases sem ter contato nenhum com o vírus”, explica o infectologista Claudio Sergio Pannuti, professor da Faculdade de Medicina da USP.
A mononucleose ganhou a alcunha de “doença do beijo” décadas atrás, quando uma epidemia tomou conta de uma universidade norte-americana após um piquenique –muitos alunos ficaram, e o vírus se espalhou pelo campus.
“A transmissão se dá pela saliva, principalmente pela troca durante um beijo na boca. Muitos nunca manifestam os sintomas, mas o vírus fica no organismo. A pessoa sara, mas continua excretando o vírus”, continua Pannuti. “A boca sempre tem os seus vírus. É preciso ver o custo-benefício de cada uma”, brinca ele.
Alexandre Zaparoli ficou dez dias afastado do colégio, com febre de quase 39 graus. “Beijei umas três meninas, teve a viagem de formatura. Eu não sabia que existia a doença do beijo. Sinto muita dor de cabeça e em cima dos olhos”, diz.
Além das dores, a mononucleose tem sintomas como febre, dor de garganta, mal-estar e fadiga –o que gera muitos diagnósticos equivocados. Muita gente nem chega a saber que teve a doença do beijo.
“É fácil confundir com amigdalite, por exemplo, mas, se o médico tem a hipótese na cabeça, pede exames que comprovam a mononucleose. A fase aguda dura uma ou duas semanas”, diz Regina Succi, professora de pediatria e doenças infecciosas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
“Você andou beijando?”
Um exame de sangue detecta aumento dos linfócitos, um tipo de célula, que ficam alterados. Outra pista, além da pergunta “Você andou beijando na boca?”, é o inchaço de gânglios.
O contágio costuma acontecer na fase inicial da doença, enquanto o vírus está incubado. Esse período de incubação dura, em média, duas semanas. Respirar no mesmo ambiente fechado e colocar a mão na boca e, depois, em algum objeto são outras formas de transmitir o vírus, da família do herpes.
Entre um grupo especial de pacientes, os imunodeprimidos –transplantados ou HIV positivos, por exemplo–, a mononucleose pode evoluir para tumores malignos –há vacinas sendo testadas. A maioria dos infectados, entretanto, apenas fica de cama por alguns dias, tentando descobrir com quem trocou o tal do “beijo fatal”.