Poeira atrapalha plano da Nasa de retorno à Lua e viagem a Marte

O ambicioso projeto da Nasa de voltar à Lua e de lá seguir para o planeta Marte enfrenta um empecilho: a poeira.

17/02/2005


Chris Kridler
Cabo Canaveral, Flórida

As naves irão desembarcar na Lua e no planeta vermelho. As tendas dos astronautas poderão ser fincadas por lá. O problema, segundo disseram cientistas reunidos numa conferência recente no complexo de visitantes do Kennedy Space Center, é que não se sabe o bastante sobre o solo que será encontrado.

Os astronautas poderiam inadvertidamente construir uma tenda sobre uma superfície de gelo que derreteria com o calor gerado pela habitação, disse o físico da Nasa Phil Metzger, do Kennedy Space Center. Um astronauta poderia então cair no que seria equivalente a uma fenda.

“Você pode pegar um punhado de terra de um mesmo solo, passá-lo por um funil e o que sairá do outro lado terá uma consistência diferente, todas as vezes”, diz Robert Behringer, da Duke University. “E isso acontece rotineiramente no planeta Terra… você acha que está executando o mesmo processo por diversas vezes, e os materiais granulares “pensam” de maneira diferente.”

Os perigos apresentados pela poeira da Lua e de Marte estão entre as maiores preocupações dos cientistas. Um foguete que desembarcasse na Lua poderia levantar nuvens de um material disperso, chamado rególito. Com pouca força gravitacional para impedir a entrada de pedras ou da poeira, fragmentos poderiam danificar o foguete ou abrir fendas.

“Isso teria o potencial de danificar a espaçonave ou alguma coisa que passe por perto”, diz Behringer.

Os soldados americanos encontraram problemas semelhantes no Iraque. A poeira se infiltra em tudo, neutralizando helicópteros e armas teleguiadas. Os motores dos tanques precisam de filtros especiais, e os computadores laptop também necessitam de proteção especial. Os equipamentos se degradam mais rapidamente, tudo por causa da poeira, cujas propriedades ainda não são totalmente conhecidas.

Esses exemplos banais proporcionam mais razões para os cientistas analisarem a poeira espacial. Como se dá a distribuição dos tamanhos dos grãos? Eles são ásperos ou suaves? E como esses grãos irão reagir?

Podemos acreditar que eles se comportam como sólidos”, diz o cientista Michel Louge, da Universidade de Cornell. “Mas eles se comportam como um líquido quando você os derrama. E se você está num ambiente com gravidade bem reduzida, eles podem se colidir um contra o outro e ficarem suspensos, se comportando como um gás.”

Até mesmo na Terra, os materiais granulares freqüentemente representam um mistério, embora o poder da informática e da construção de modelos via computador esteja ajudando os físicos a desvendar esse segredo.

O cientista chefe da Agência Espacial Européia Bernard Foing declarou que poderá ser necessária mais uma década de exploração robótica para se trazer amostras e testar o solo lunar e o solo marciano.

“Eu recomendaria que testassem o funcionamento desses sistemas sem a presença de pessoas… mas isso não seria uma medida popular”, disse Allen Wilkinson do Centro de Pesquisas Glenn da Nasa.

“O problema é que não podemos ir para lá na base do esquema de tentativa-e-erro”, disse Louge.

Na Terra, os funcionários podem quebrar uma máquina, mas aí arrumam novos componentes e a consertam no dia seguinte. Já no espaço não é tão fácil assim conseguir peças de reposição.

A boa notícia é que a poeira da Lua e de Marte poderá ser mais que uma inimiga. Também poderá ser usada para proteger da radiação as tendas dos astronautas. A poeira pode ser enriquecida e utilizada para criar alimentos, e até mesmo desmembrada para a obtenção de água ou de combustível para os foguetes.

“Quando voltarmos à lua ou embarcarmos para Marte, teremos que aprender a viver da terra, assim como fizeram nossos ancestrais pioneiros”, disse Larry Taylor, diretor do Instituto de Geociências Planetárias da Universidade de Tennessee. “E a maneira mais fácil de se atingir esse objetivo seria por meio do aproveitamento de recursos que já estão por lá. Por exemplo, se houver fontes disponíveis com oxigênio, hidrogênio e água, não será necessário transportar água da Terra.”

Em vez de gastar U$ 10.000 (cerca de R$ 27.000) para transportar um “pint” (medida britânica equivalente a menos de meio litro) –e isso é que é água engarrafada caríssima– seria possível produzir o líquido em plena Lua, diz o cientista Larry Taylor.

O macete seria tentar encontrar o solo certo para ser explorado, e em seguida assegurar que a tecnologia previamente testada na Lua poderá ser adotada em Marte, respeitadas as diferentes características dos seus solos.

“Ou o desembarque ocorrerá num local onde poderá ocorrer uma difícil prospecção ou será necessário cavar em outros pontos, o que também será difícil”, acredita Metzger. “A lida com o solo da Lua de Marte é uma parte importante para que se cumpram os planos do presidente Bush.”

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