Entre o Mar Negro e o Golfo Pérsico correm dois rios que atualmente se unem perto da foz, formado o Chat-el-arab. Há 600 anos, corriam paralelos e desembocavam separados, banhando fasta região. Os dois rios são o Tigre e o Eufrates. A região, Mesopotâmia.
Ao norte da Mesopotâmia ficava a Assíria – terra montanhosa e pobre de recursos. Al sul a Caldéia, de clima quente e úmido no verão e frio, no inverno. A Caldéia era periodicamente inundada pelos rios que fertilizavam suas terras. As enchentes, porém, eram menos regulares que as do Nilo e, às vezes, devastadoras.
Quatro mil anos antes de Cristo, na baixa Caldéia já se encontrava uma civilização bastante avançada: a dos Sumérios. Eram um povo de baixa estatura, de cabeça arredondada, olhos rasgados e de origem ainda desconhecida. Fundaram várias cidades que tinha vida independente e, às vezes, guerreavam-se. Entre as principais estavam: Ur (onde nasceu o Patriarca Abraão), Nippur e Lagash.
Os Sumérios eram governados pelos Patesis e dedicavam-se à lavoura e ao comércio. Foram os primeiros a aproveitar as águas dos rios para irrigação. Além disso empregavam barras de metais preciosos, com peso determinado, como moeda, em suas transações. Eram politeístas. Seus principais deuses eram Shamash (Deus do Sol), Enlil (Deus da Chuva), e tinha aparência humana (antropomorfismo). Seus templos, chamados de Zigurats, construídos em tijolos de barro cozido, foram importantes edificações em suas cidades.
Criaram uma escrita especial, cuneiforme, que à falta de papiro, produziam com um estilete sobre tijolinhos de barro ainda mole. Em tais tijolos, era escrita sua literatura, sua correspondência e, especialmente, sua contabilidade, na qual eram feitos os controles sobre as colheitas e sobre os impostos devidos ao Patesi.
Ao norte dos Sumérios estabeleceram-se os Acádios, povo semita que deixou os desertos da Síria em busca dos férteis solos da Mesopotâmia. Entre as cidades fundadas pelos Acádios estavam Acádia, Sipar e Babilônia. A proximidade de Sumérios e Acádios deu origem a várias guerras. Entretanto, terminaram por unir-se em um só povo, especialmente após os esforços de Sargão I, em 2.550 a. C.
Após novas invasões semitas surge o Primeiro Império Babilônico ou Caldeu. Embora desaparecidos como povo, os Sumérios deixaram profunda influência nos caldeus. Estes aproveitando-se dessa experiência herdada, passaram a realizar enormes obras de irrigação, secagem de pântanos e desenvolvimento da agricultura. Com isso, aumentaram a riqueza do país, que se tornou o mais importante da época. Hamurabi foi o soberano de maior destaque do Primeiro Império e após a sua morte, a Babilônia sofre invasões, especialmente dos hititas e cassitas. Os assírios, de origem semita, eram rudes e cruéis; até então submissos aos caldeus, preparam-se para a desforra. Organizam um exército extraordinariamente bem treinado e disciplinado e passam à conquista de toda a Mesopotâmia. Começa o Império Assírio. Empregam, pela primeira vez na história, o cavalo, como arma de guerra. Assim dominam seus inimigos pela extraordinária mobilidade de suas tropas.
Com os saques e os tributos que exigiam dos povos dominados, os assírios transformaram suas cidades Assur e Nínive, antes pobres, em centros de luxo e prazer. Os escravos trabalharam no seu embelezamento e fortificação, construindo extensas e altas muralhas.
Os mais famosos reis assírios foram os da dinastia dos Sargônidas. Entre eles destaca-se Assurbanipal, que fez várias conquistas e embelezou Nínive. A Assíria, então, era o maior império da Ásia Menor.
O domínio assírio fazia-se a ferro e fogo. Não satisfeitos em derrotar o inimigo, os prisioneiros eram decapitados e, quando escapavam à morte, tinham os olhos vazados, os narizes e orelhas cortados e as unhas arrancadas. Além disso, as plantações eram arrasadas, as cidades saqueadas e incendiadas, e as mulheres e as meninas eram violentadas, e crianças eram mortas em rituais de holocausto aos deuses assírios. Esse regime de terror foi mantido pelos assírios sobre seus inimigos durante 600 anos. O ódio comum aos assírios, porém, uniu os povos dominados. Em 612 a.C., babilônios e Medas (os médicos, nativos do Reino da Média) conseguem vencer os assírios e destruir Nínive, sua capital. Começa o Segundo Império Babilônico.
O vencedor dos assírios foi Nabupolasar. Seu filho Nabucodonosor, porém, passou à história como o mais notável monarca do Segundo Império Caldeu. Militarmente ampliou seus domínios até o Mediterrâneo. Tomou Tiro, na Fenícia, conquistou o reino de Judá, dos Hebreus, incendiando o Templo de Jerusalém, edificado pelo grande rei Salomão.
Embelezou Babilônia, construindo magníficos templos, palácios, aquedutos, parques e os famosos jardins suspensos, considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Após a morte de Nabucodonosor a Babilônia entra em decadência. O excesso de riquezas levou a corte à vida dissoluta, cultivando os vícios e os prazeres.
Em 538 a.C. a Babilônia cai em poder do rei dos persas, Ciro, que a transforma em uma de suas províncias. Era rei, Baltazar que, debilitado pela vida de prazeres, pouco pode fazer para deter os invasores. Os persas foram recebidos com aplausos pelos próprios babilônios, cansados das orgias palacianas.
Hamurabi
Hamurabi foi o soberano de maior destaque no Primeiro Império Babilônico. Fez guerra de conquista, abriu gigantesco canal, paralelo ao Rio Eufrates e reuniu, em código de leis, toda a legislação até então existente em seus domínios. Foi o chamado Código de Hamurabi.
O Código de Hamurabi
O mais notável documento literário e jurídico deixado pelos Mesopotâmicos foi o Código de Hamurabi. Herdando um império com populações bastante heterogêneas, com variedades de costumes e tradições, o monarca caldeu sentiu a necessidade de recolher e codificar as leis já existentes, mas esparsas e desordenadas. Procurava tornar mais fácil e racional a aplicação da justiça em seus vastos domínios.
O código consegue, ao lado de outras medidas de caráter administrativo, manter a unidade do primeiro império universal. Hamurabi consente na sobrevivência da religião dos antigos Sumérios e dos acadianos, embora, nos templos, acima de todos os deuses, esteja o da Babilônia – Marduk. A língua oficial é a Acádia, mas, nas cerimônias religiosas, usa-se a suméria.
O código consagra a unidade da família, à qual se dão as necessárias garantias para a sobrevivência. Estabelece rígida moral baseada na “Lei do Talião” que apregoa o seguinte: “olho por olho, dente por dente” (ressuscitada pelos árabes na Suna). Esse princípio visa responsabilizar os cidadãos em seus atos com os semelhantes, evitando o domínio da injustiça. Entretanto, como a sociedade babilônica se baseava na existência de classes, não havia o princípio de que todos são iguais perante a lei. A igualdade existia, sim, mas entre os da mesma classe social. Assim, “se um patrício tirar o olho de outro patrício, ser-lhe-á tirado um olho também; se um plebeu quebrar um osso de outro plebeu, ser-lhe-á quebrado um osso também”. Entretanto, se um patrício causasse um mal a um plebeu, bastaria indenizá-lo em dinheiro.
O código era muito claro sobre o comércio, base da economia local. Fixava preços máximos de mercadorias e estabelecia o salário máximo (não o mínimo). Estabelecia taxas de lucros, o máximo variando ao redor de 30%. A falta de pagamento de dívidas era punida com a escravização da família, até que o devedor saldasse o compromisso.
Praticamente todas as profissões existentes eram mencionadas no código, e sua atividade regulamentada. O código criou também os primeiros tribunais de apelação onde o Rei, fazendo o papel de jurisconsulto, tinha de resolver as pelejas e pendências que surgiam até entre os pacientes e os Sacerdotes-Boticários, além dos problemas das outras profissões.
Isso permitiu a padronização da justiça em toda a extensão do império do grande monarca babilônico. Por outro lado, alguns princípios de sua legislação iriam, mais tarde, influenciar o direito de outros povos, como os hebreus, através dos quais, chegariam até nós.
As leis de Hamurabi foram escritas e reproduzidas numerosas vezes, para atender à preocupação de fazer Justiça em toda parte. Uma das cópias do Código de Hamurabi, gravada em um bloco de diorita azul, foi encontrado nas escavações de Susa, em 1902. Encimando o texto aparece o rei, sentado em seu trono, ao lado de um súdito. Hamurabi fez o seu código em 2.050 a.C.
Os Inventores do Horóscopo
Os deuses Mesopotâmicos eram numerosos. Todos eram imortais e, mesmo quando puniam os homens, faziam-no com grande generosidade. A Trindade Suprema era formada por Anú, rei e pai dos deuses, que vivia no céu; Enlil, senhor da atmosfera e da Terra; Éa, pai da civilização, senhor da sabedoria e patrono das artes. Outros deuses: Sin, Deus-Lua, media o tempo e providenciava para que os rei ímpios terminassem seus dias com lágrimas; Samasse, Deus-Sol, supremo juiz, perseguidor da iniquidade, inspirador das leis sábias e justas; Ishtar, planeta Vênus, deusa da noite, da guerra e do prazer. Outros deuses, representando as forças da natureza, povoavam as cortes celestiais. Além disso, cada cidade tinha seu deus. O mais notável de todos foi Marduk, deus da Babilônia. Durante a supremacia babilônica, todos os deuses locais estiveram subordinados a Marduk.
O maior deus assírio foi Assur, o criador da humanidade, rei dos deuses, guerreiro supremo que busca submeter a seu jugo todos os homens.
Os Sacerdotes, classe privilegiada, eram representantes terrenos dos deuses. Além do prestígio que isso lhes dava, procuraram aumentá-lo ainda mais através da invenção e do desenvolvimento da astrologia, misto de ciência e superstição, que pretendia explicar as ações humanas através da influência dos astros.
Graças a seus conhecimentos dos mistérios dos astros, podiam prever o futuro, purificar enfermos e pecadores, curar várias doenças mediante operações mágicas, realizar sacrifícios e interceder pelos semelhantes. Às vezes, usavam entranhas de animais para adivinhar, ou uma gota de óleo colocada sobre a água. Entretanto era observando os astros que mais efeito conseguiam. Foram os babilônicos que descobriram as constelações do zodíaco, do qual deriva o moderno calendário. Os horóscopos modernos são, também, de inspiração caldaica.
Na caldéia surgiu o maior de todos os alquimistas da antigüidade. Zoroastro, (ou Zaratustra) foi um dos reis da Babilônia antiga e com ele a alquimia ganhou sistematização e ainda a idéia da transmutação de outros elementos em ouro surgiu com ele e foi difundida pelos Médicos (ou Medas), estes levando os conhecimentos herdados das escolas alquímicas da Babilônia, após a destruição da Assíria, para seu território e ensinando-os ao povo Persa quando da fusão entre eles dando origem à grande nação Persa que veremos mais adiante. Zoroastro foi imortalizado na música clássica por Richard Strauss na ópera Also Sprach Zaratustra (Assim Falou Zaratustra).
Basicamente, as formas de tratamento dos Sumérios eram um misto entre religião e fitoterapia, onde o sacerdote era o terapeuta que invocava os deuses Anu, Enlil, Éa, Sin, Ishtar e Marduk. Os Sumérios também criaram, além da astrologia,
Nesta mesma época, um grupo de dissidentes do culto politeísta dos Mesopotâmicos liderados por ABRAÃO, que nasceu em Ur, na Caldéia, instituíram o culto monoteísmo à IEVE (ou IAVÉ ou JEOVÁ), e emigram para a Palestina onde fundam os reinos de Israel e de Judá. Estes foram os precursores do Cristianismo, denominados HEBREUS ou JUDEUS, e a religião que eles fundaram denominou-se JUDAÍSMO.
A Primeira Escrita
Nos grandes templos, onde residiam as maiores autoridades da Cidade-Estado, eram armazenados os produtos provenientes do campo. Isso permitia aos administradores o perfeito controle do uso do solo, de modo que todos pudessem dele usufruir. Os artesãos, os comerciantes, os funcionários, na verdade não lavravam a terra, mas tinham direito, mesmo assim, à sua “porção de grão”. O templo era, pois, o centro econômico de toda a cidade. Para ele os artesãos levavam seu produto, que seria trocado por víveres e matérias-primas; nele se encontravam com comerciantes provenientes de regiões longínquas. A necessidade de registrar o montante que atingiam as transações, ou o produto com o qual se negociava, levou à criação de sinais convencionais, com os quais fosse possível ter-se uma verdadeira e adequada contabilidade. Esses sinais, que eram escritos sobre tapuias de argila, são a base da mais importante invenção humana: a escrita. No Egito a escrita era constituída de sinais, que representavam objetos reconhecíveis. Esses sinais chamam-se hieróglifos. Na Mesopotâmia, a necessidade de usar tijolinhos de argila fez com que fossem abandonados os sinais hieroglíficos primitivos e se desenvolvessem outros, mais fáceis de serem escritos, com o auxílio de um estilete. Esses sinais são chamados cuneiformes por se assemelharem a pequenas cunhas. O alfabeto foi inventado há cerca de 3.500 anos, pelos povos semíticos, que simplificaram os hieróglifos egípcios. Foi aperfeiçoado, ainda, pelos fenícios, que o espalharam pelos países mediterrâneos.
A humanidade deve a decifração da escrita cuneiforme ao francês E. Bournonf, ao alemão Grotefend (que descobriram o alfabeto de uma escrita persa – Zend – que empregava cuneiformes) e ao inglês Rawlinson, que encontrou, em 1851, uma inscrição redigida nas línguas assíria, babilônica e Zend. Usando processo semelhante ao de Champollion, conseguiram o resultado almejado.
As Ciências: Matemática e Astronomia
A Mesopotâmia foi o berço de várias das ciências até hoje desenvolvidas pela humanidade. Aquele povo praticamente partiu do zero, nada tendo para basear-se a não ser seu espírito de observação e sua perspicácia. É admirável o progresso que realizou.
Das ciências desenvolvidas na Mesopotâmia merecem destaque: a matemática, a geometria e a astronomia.
Necessitando medir e dividir corretamente as propriedades agrícolas, espalhadas entre o Tigre, o Eufrates e os canais de irrigação, cedo tiveram curiosidade de encontrar fórmulas que lhes facilitassem o trabalho. Os sacerdotes e os escribas, dada a sua condição especial, eram bem dotados nessa ciência. Conseguiram determinar o valor de p (pi), ficando-o em 3 (embora com certa margem de erro); compuseram tabelas onde se encontravam resultados de cálculos, evitando fazer repetidas operações; iniciaram o estudo das progressões aritméticas e geométricas; calcularam o valor da hipotenusa e souberam decompor superfícies complexas em simples.
Graças à matemática puderam construir uma admirável rede de canais de irrigação, tão perfeita que ainda hoje se procura reconstruí-la em seu aspecto original, para ajudar a expansão da lavoura do atual Iraque.
Também a astronomia foi um campo onde fizeram um grande progresso. Dividiram o dia em doze horas duplas, e o ano em doze meses lunares, aos quais, periodicamente, acrescentavam mais um para acertar com o ciclo solar. Descobriram as 12 constelações zodiacais. Inventaram o relógio solar e uma ampulheta para medir o tempo. Estabeleceram um engenhoso sistema de pesos e medidas, usando estatuetas de animais como referência.
Deixaram, também, precioso documento onde calcularam os eclipses lunares com precisão.
No tratamento de doenças fizeram algum progresso tendo, inclusive, legislado sobre cirurgia (Hamurabi). Todo o tratamento dispensado era feito em nome dos deuses.
Os Metais e as Armas
O uso do metal teve decisiva influência sobre a construção das armas: os primitivos punhais de lâminas de pedra foram substituídos por armas muito mais elaboradas e complexas. Com a introdução do bronze, aumenta sua quantidade e qualidade. A facilidade com que o bronze pode ser fundido, permite fabricar adagas triangulares muito mais robustas do que as primitivas. Dessas adagas, que possuíam uma nervura central, derivou a espada. Entretanto, o maior progresso obtido na construção de armas surgiu, quando o homem começou a fundir o ferro. Os assírios foram os primeiros Mesopotâmicos a utilizarem o ferro em suas armas na conquista da Babilônia.