Louis Pasteur, um dos grandes revolucionários das ciências biológicas, nasceu em 1822 numa cidadezinha do leste da França chamada Dôle. Seu pai era um curtidor que gostava muito de seu ofício de tal forma que desde cedo planejou a carreira do filho no mesmo ramo de peles de couros. Assim, quando Louis atingiu a idade escolar, o velho Pasteur mudou-se com a família para a cidade de Arbois e ali alugou um curtume. Tão logo o filho terminasse os estudos primários, seria iniciado nos mistérios da arte de curtir.
Sem saber que já estava com seu futuro todo planejado, Louis foi para a escola. Não se revelou aluno brilhante, mas cumpria seus deveres com tanta dedicação que o diretor da escola aconselhou seu pai a abandonar o projeto de fazer dele um artesão: achava que valia a pena estimular o menino a cursar uma escola superior. E foi assim que um belo dia Louis Pasteur foi para Paris para estudar. A condição de estudante lhe agradava e a cidade também, mas não conseguiria viver longe da família: ao fim de algum tempo, a saudade venceu, e ele retornou a Arbois, interrompendo os estudos.
Mas a temporada em Paris fez com que Arbois parecesse a Pasteur muito pequena e acanhada. Besançon, situada a 40 quilômetros de distância oferecia maiores possibilidades, com a vantagem de permitir-lhe manter o contato com os seus. Para lá seguiu Pasteur.
Matriculado no Colégio Real, completou o curso de Letras em 1840, mas não demorou a concluir que o bacharelado e o cargo de professor de Colégio não eram exatamente o que pretendia da vida. Daí sua decisão: retomar os estudos e fazer um curso de Ciências. Dois anos depois, já com o novo diploma em punho, foi outra vez a Paris, a fim de se especializar em química na Escola Normal Superior, uma das mais famosas Universidades Francesas.
Mais dois anos e um avanço importante: o universitário Pasteur torna-se doutor em ciências e passa a trabalhar como assistente de Antonie Jerome Balard (1802-1876), grande químico da época, iniciando a carreira científica que celebrizaria seu nome no mundo inteiro.
Para Pasteur, o ano de 1849 marcou dois acontecimentos importantes: seu casamento com Marie Laurent e sua nomeação para a suplência da cátedra de química da Universidade de Estrasburgo.
Em 1854, com apenas 32 anos de idade, Pasteur deixou Estrasburgo para subir mais um degrau: assumiu a reitoria da Faculdade de Ciências de Lille. Havia nessa cidade uma indústria que vivia em apuros porque, durante o processo de fermentação do açúcar de beterraba, freqüentemente se originava ácido láctico em vez de álcool. E, enquanto o álcool valia bom preço, o ácido láctico era praticamente inútil. Ninguém entendia o que levava o açúcar a “desandar” e o problema foi trazido a Pasteur, que começou a pesquisar o assunto. Ao mesmo tempo estudava a fermentação do vinho e da cerveja. E as descobertas não demoraram. A fermentação era causada por organismos microscópicos que vivem nos líquidos. Examinando amostras de fermentação normal de cerveja, Pasteur notou que os organismos que ali apareciam eram de formato esférico, enquanto na fermentação “degenerada” os corpúsculos tinham a forma de bastonetes.
É claro que no decorrer dessas pesquisas Pasteur se interessou em saber se os minúsculos seres eram encontrados permanentemente na atmosfera ou se eram gerados espontaneamente. E então fez uma série de experiências, as quais lhe mostraram que, impedindo-se a entrada de micróbios num recipiente contendo líquido não contaminado e enriquecido, como um caldo, este permanecia puro e se conservava por muito tempo. Logo, os microrganismos que causavam a fermentação não se geraram espontaneamente, como se acreditava em geral.
Essa foi a grande, se não a maior, contribuição de Pasteur as ciências, pois através da célebre experiência do frasco com pescoço de cisne ele jogou por terra toda a teoria da geração expontânea defendida com unhas e dentes por renomados médicos, todo o clero e até muitos cientistas. Com essa experiência do pescoço de cisne ele descobriu mais: para combater os microrganismos bastava usar o calor, aquecendo os líquidos a uma certa temperatura. O processo de conservação de alimentos que se tornou conhecido com o nome de Pasteurização foi aperfeiçoado a partir dessas experiências sobre a fermentação.
Pasteur tornou-se conhecido como maior químico de sua época; em 1862, foi eleito membro da Academia Francesa de Ciências e em 1863 passou a ensinar também física e geologia na Escola de Belas Artes. Em 1865, quando uma praga devastou as criações de bicho-da-seda no Sul da França, o cientista foi enviado em missão oficial para solucionar o problema. Após três anos isolou os microorganismos responsáveis pela doença e conseguiu desenvolver um sistema para evitar o contágio.
Convencido de que as moléstias infecciosas deviam ser provocadas por micróbios, Pasteur começou a pesquisar a respeito com tanto afinco, que nem o fato de estar parcialmente paralítico desde 1868 o afastou do trabalho. Em 1881, finalmente, viu a confirmação de sua teoria: isolou o micróbio de uma doença do gado bovino – o carbúnculo. Com a colaboração de Pierre Paul Emile Roux e Charles E. Chamberland – outros dois grandes bacteriologistas franceses – criou uma vacina imunizante, cuja eficácia lhe trouxe a gratidão dos pecuaristas de toda a França.
Resolvido o problema do carbúnculo, Pasteur se propôs um novo desafio: derrotar a hidrofobia ou “raiva”. Não existia na época nenhum meio de evitar a morte das pessoas e animais mordidos por cães raivosos, e o cientista resolveu procurá-lo. Primeiro, injetou a saliva de animais contaminados em outros sadios, observando que o vírus se estabelecia nos centros nervosos. Depois extraiu material da medula de cães hidrófobos e inoculou-o em animais sadios. Resultado: estes também ficavam raivosos. Pasteur viu que estava no caminho certo. Submetendo o tecido medular de animais doentes a um tratamento especial de dessecamento por meio de calor, conseguiu atenuar bastante o grau de virulência da substância. Então, preparou com ela uma solução que foi aplicada em cães e coelhos. Estes ficaram perfeitamente imunizados e resistiram a todas as tentativas de contágio por meio de saliva de cães hidrófobos. A vacina contra a raiva estava criada. Faltava apenas testá-la.
A ocasião veio logo: no dia 6 de julho de 1885, um menino de 9 anos foi trazido por seu pai ao laboratório de Pasteur. Fora mordido por um cão raivoso três dias antes e agora tinha a vida por um fio. Em vista disso, Pasteur não hesitou em aplicar-lhe sua vacina. O sucesso foi absoluto: o menino não adquiriu a moléstia. Já grande, o prestígio do cientista ficou maior ainda. Foi lançada uma subscrição para realizar o seu grande sonho: um centro de pesquisas inteiramente dedicado ao estudo de doenças infecciosas. O projeto foi levado avante e, em 1888, o incansável pesquisador assistiu à inauguração do instituto que recebeu seu nome. Graças aos estudos de Pasteur e, posteriormente aos trabalhos realizados no Instituto Pasteur, a hidrofobia reduziu-se praticamente a uma lembrança.
Em 1895 o grande e incansável Louis Pasteur passou ao Oriente Eterno, deixando a vida para entrar para a história como uma das mais belas páginas da história das ciências. Um detalhe curioso acerca deste baluarte das ciências é o fato de que ele era diplomado em letras e em ciências e não em medicina como muitos querem lhe designar, especialmente a classe médica que tenta atrair para si os méritos de cientistas de outras classes profissionais.