Frutosamina é o nome genérico dado a todas as proteínas glicosiladas, das quais a maior parcela é devida a albumina, que se constitui na maior massa proteica plasmática depois da hemoglobina.
O nível sérico de frutosamina representa o valor médio da glicose sangüínea em um prazo de duas a três semanas, inferior ao da glicohemoglobina e idêntico ao das proteínas glicadas.
A frutosamina está elevada em todos os casos de diabetes sob controle metabólico inadequado e tem sido observado que os valores retornam aos níveis de referência vinte dias após a estabilização da glicemia em níveis adequados.
Quando se observa perda do controle glicêmico, a resposta da frutosamina (com elevação de valores), ocorre praticamente concomitante a hiperglicemia, retornando entretanto aos valores de referência três semanas após a resposta ao tratamento.
O problema do controle da glicemia a longo prazo é um tema de grande interesse para o diabético, já que está suficientemente demonstrado que a única maneira eficaz de prevenir os transtornos degenerativos próprios de diabetes é um controle estrito da glicemia, evitando flutuações importantes.
PROTEINAS SÉRICAS GLICOSILADAS
A glicosilação tanto da hemoglobina, como da albumina e de outras proteínas plasmáticas, ocorre de modo análogo. Inicialmente forma-se uma base de Schiff através de uma reação entre a forma aldeído do açúcar e os amino grupos livres das proteínas. Em seguida esse composto sofre um rearranjo (Amadori) formando uma cetoamina e, posteriormente, esse último composto é transformado na sua forma cíclica, provavelmente mais estável em condições fisiológicas. A albumina é inicialmente glicosilada nos seus e-amino grupos dos resíduos de lisina e a extensão da glicosilação não-enzimática está diretamente relacionada à concentração da glicose e ao período em que a proteína ficou exposta a tais condições. De modo que a concentração das proteínas glicosiladas está diretamente relacionada com os níveis glicêmicos e com a vida média da proteína. A porcentagem de proteínas glicosiladas pode então ser utilizada para se mensurar o grau de controle metabólico do paciente diabético.
No momento existem várias técnicas para a determinação das proteínas séricas glicosiladas ( PSG ) que refletem o controle glicêmico das duas últimas semanas. Este período corresponde à vida-média da albumina que constitui, aproximadamente, 90% das PSG.
Os valores das PSG mostram uma boa correlação com as concentrações de hemoglobina-A1, com os níveis de glicemia de jejum, com o valor M e com as medidas da glicemia capilar avaliadas nos estudos de autocontrole dos pacientes diabéticos.
As proteínas séricas glicosiladas teriam, entretanto, algumas vantagens em relação a hemoglina-A1, a saber:
1) podem ser utilizadas em situações nas quais a mensuração da Hb-A1 está prejudicada, como em diabéticos portadores de hemoglobinopatias, ou quando a sobrevida das hemácias está diminuída;
2) parece ser um indicador mais sensível da “integral” dos níveis glicêmicos que a Hb-A1;
3) por ser mais sensível e por ter uma meia-vida menor que a Hb é capaz de detectar as alterações da glicemia mais rapidamente que a Hb-A1.
Assim, a proteína SG é um índice de controle metabólico capaz de detectar o resultado das manobras terapêuticas efetuadas nos pacientes diabéticos mais precocemente que a Hb-A1.
EXAMES LABORATORIAIS PARA A DOSAGEM DA FRUTOSAMINA
Método 1 Nome do Exame: Frutosamina
Princípio: Quando a glicose se une às proteínas, o produto final da reação é uma cetosamina, mais precisamente, a frutosamina; esta, tem a propriedade de reduzir, em meio alcalino (pH= 10,6), o sal de tetrazólio ( nitrobluetetrazolium-NBT ) e a velocidade de redução é diretamente proporcional à concentração da frutosamina existente na amostra.
Reativos: Carbonato de sódio 0,1 M;
Bicarbonato de sódio 0,1 M;
Tampão carbonato ( pH= 10,8 );
Nitrobluetetrazolium 0,25 mM;
Albumina 4%;
Padrão de DMF* ( 1,5 mmol/L ).
Procedimento:
a)Em uma cubeta de espectrofotômetro de um centímetro de diâmetro, adicionar 1ml de “nitrotetrazolium” 0,25mM e 0,1ml de soro. Agitar por inversão e marcar exatamente o tempo ( cronômetro ).
b)Inserir a cubeta no porta cubetas do espectrofotômetro, a qual deve estar regulada a uma temperatura de 37 graus centígrados.
c)Efetuar as leituras espectrofotométricas em 530 nm exatamente aos dez e quinze minutos após a adição do soro, ajustando o zero do aparelho com um branco preparado a partir de 1ml de nitrobluetetrazolium 0,25 nM, 0,1 ml de água destilada e incubado a 37 graus centígrados. Anotar a diferença da absorbância DA.
d)Concomitantemente, preparar e tratar da mesma forma o padrão de DMF ( 1,5 mmol/l ). Obtém-se assim a diferença de absorbância DP.
CÁLCULOS:
DA/DP. C = mmol de frutosamina por litro de soro
DA = Diferença da absorbância obtida com a amostra
DP = Diferença da absorbância obtida com o padrão
C = Concentração do padrão ( mmol/L )
*OBS: DMF é 1-deoxi-1-morfolin-D-frutose
C10H19O6N.
Valores de referência: Os valores encontrados em indivíduos normais oscilam entre 1,2 e 1,8 mmol /l ( 1mmol equivale, aproximadamente, a 25mg% ).
OBSERVAÇÕES:
1. Não existem preparações comerciais de frutosamina e, assim, deve-se evaporar um padrão de 1-deoxi-1-morfolin-D-frutose. Pode-se evitar este inconveniente trabalhando-se com um “pool” de soros normais padronizados.
2. Interferentes: Nas condições acima descritas, as interferências são desprezíveis, uma vez que os outros açúcares não interferem. Somente o ácido ascórbico e o glutation poderiam exercer algum efeito sobre a reação, porém, no pH indicado e efetuando-se as leituras espectrofotométricas entre 10 e 15 minutos, a interferência é praticamente nula.
Método 2
Nome do exame: Proteína glicosilada
Sinonímia: Proteína glicosilada total
Albumina glicosilada
Material: soro
Volume mínimo: 0,5 ml
Coleta / Conservação: Se o exame não for realizado no mesmo dia, congelar a amostra
Preparo do paciente: jejum não obrigatório
Método: Cromatografia de afinidade, com dosagem das proteínas nos eluatos pelo método de Lowry.
Interferentes: negativos
Valores normais: de 0,8 a 2,6% ( da proteína total )
Interpretação: a determinação da proteína glicosilada dá uma idéia da média das glicemias nas últimas 2-3 semanas, sendo um parâmetro de controle metabólico do paciente diabético. Assim como a Hb glicosilada, é pouco sensível para diagnóstico de diabetes, diferindo desta por integrar os fenômenos de hiper ou hipoglicemia de um período mais curto ( 2 a 3 semanas/ 2 meses ).
Exames relacionados: GTT, glicemia, Hb glicosilada.
CONCLUSÃO
A glicose se liga aos grupamentos amina das proteínas formando uma base de Schiff ( aldimina ), que após um rearranjo molecular, transforma-se em uma cetoamina estável, a frutosamina.
As concentrações de frutosamina correlacionam-se positivamente com a glicemia de jejum, com os níveis de Hb-A1 e com a média das glicemias nas 24 horas dos pacientes diabéticos tipo 1 .
A frutosamina corresponde a um índice do controle glicêmico ocorrido nas últimas 3-6 semanas. Este é então um parâmetro das alterações da glicemia em um período de tempo intermediário ao avaliado pela proteína sérica e pela Hb-A1.