Para que servem os amigos? Para ter uma vida mais longa

26 de abril de 2009 | Autor: antonini

Por Tara Parker-Pope

Na jornada por uma saúde melhor, muitas pessoas se voltam a médicos, livros de autoajuda ou suplementos de ervas. Porém, elas ignoram uma poderosa arma capaz de ajudá-las a combater doenças e a depressão, acelerar a recuperação, retardar o envelhecimento, e prolongar a vida: seus amigos.

Recentemente, pesquisadores estão começando a prestar atenção na importância da amizade e das redes sociais para a saúde em geral. Um estudo australiano de 10 anos descobriu que pessoas mais velhas com um grande círculo de amigos tinham uma chance 22% menor de morrer durante o período do estudo, em relação àqueles com menos amigos. Um grande estudo de 2007 mostrou um aumento de quase 60% no risco de obesidade entre pessoas cujos amigos ganhavam peso. No ano passado, pesquisadores de Harvard relataram que laços sociais fortes poderiam promover saúde cerebral conforme envelhecemos.

“No geral, o papel da amizade em nossas vidas não é terrivelmente bem apreciado”, disse Rebecca G. Adams, professora de sociologia da Universidade da Carolina do Sul, em Greensboro. “Há várias expectativas em famílias e no casamento, mas muito pouco na amizade. A amizade tem um impacto mais forte em nosso bem-estar psicológico do que as relações familiares”.

Em um novo livro, “The Girls From Ames: A Story of Women and a 40-Year Friendship” (Gotham), Jeffrey Zaslow conta a história de 11 amigas de infância que se espalharam do Iowa para oito estados distintos. Apesar da distância, a amizade entre elas sobreviveu à faculdade, ao casamento, ao divórcio, e a outras crises, incluindo a morte de uma das mulheres antes dos 30 anos.

Usando livros de anotações, álbuns de fotos e as memórias das próprias mulheres, Zaslow narra como a amizade moldou suas vidas e continua a sustentá-las. O papel da amizade na saúde e no bem-estar é evidente em praticamente todos os capítulos.

Duas das amigas souberam recentemente ter câncer de mama. Kelly Zwagerman, hoje uma professora de colegial moradora da cidade de Northfield, Minnesota, disse que ao receber seu diagnóstico, em 2007, seu médico lhe disse para cercar-se com suas pessoas mais amadas. Ao invés disso, ela buscou suas amigas de infância, embora elas morassem longe.

“As primeiras pessoas a quem contei foram as mulheres de Ames”, disse ela numa entrevista. “Mandei um e-mail para elas. Imediatamente recebi e-mails e telefonemas e mensagens de apoio. Era muito claro que o amor porejava de todas elas”.

Quando ela reclamou que seu tratamento causava muitas dores na garganta, uma menina de Ames lhe enviou um liquidificador e receitas. Outra, que havia perdido uma filha para a leucemia, enviou a Zwagerman um chapéu tricotado a mão, sabendo que sua cabeça ficaria fria sem cabelos; outra enviou pijamas feitos de tecido especial para ajudar a lidar com os suores noturnos.

Zwagerman disse que muitas vezes se sentia mais confortável discutindo sua condição com as amigas do que com seu médico. “Nós temos tantas histórias juntas que essas mulheres falam de qualquer coisa”, disse ela.

Kelly disse ainda que suas amigas de Ames tinham sido fator essencial em seu tratamento e recuperação, e pesquisas sustentam essa percepção. Em 2006, um estudo com quase 3.000 enfermeiras com câncer de mama descobriu que mulheres sem amigos próximos tinham uma probabilidade quatro vezes maior de morrer da doença do que as mulheres com dez ou mais amigos. E notavelmente, a proximidade e a quantidade de contato com um amigo não foram associadas à sobrevivência. Simplesmente ter amigos já era algo protetor.

Bella DePaulo, professora visitante de psicologia na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, cujo trabalho foca pessoas solteiras e amizades, aponta que, em muitos estudos, a amizade tem um efeito ainda maior sobre a saúde do que um cônjuge ou membro da família. Na pesquisa das enfermeiras com câncer de mama, ter um cônjuge não foi associado à sobrevivência.

Enquanto muitos estudos sobre a amizade focam nos intensos relacionamentos entre mulheres, algumas pesquisas mostram que os homens também podem se beneficiar. Em um desses, realizado num período de seis anos com 736 homens suecos de meia-idade, a ligação com uma única pessoa não parecia afetar o risco de ataques cardíacos e doenças coronárias, mas ter amigos, sim. Apenas o cigarro era um fator de risco tão importante quanto a falta de suporte social.

O motivo exato pelo qual a amizade tem um efeito tão grande não está inteiramente claro. Enquanto amigos podem assumir pequenas responsabilidades e buscar remédios para uma pessoa doente, os benefícios vão muito além da assistência física; na verdade, a proximidade não parece ser um fator.

Pode ser que pessoas com fortes laços sociais tenham, também, melhor acesso a serviços e atendimento de saúde. Além disso, entretanto, a amizade claramente possui um profundo efeito psicológico. Pessoas com amizades fortes apresentam menor probabilidade de contrair resfriados, talvez por terem níveis mais baixos de estresse.

No ano passado, pesquisadores acompanharam 34 estudantes da Universidade da Virginia, levando-os à base de uma colina bastante íngreme e equipando-os com pesadas mochilas. Em seguida pediram que os estudantes avaliassem o grau de declive. Alguns participantes ficaram ao lado de amigos durante o exercício, enquanto outros ficaram sozinhos.

Os estudantes que estavam com amigos deram estimativas mais baixas do grau de inclinação da colina e, quanto mais tempo de amizade os participantes tivessem entre si, menos íngreme ela parecia.

“Pessoas com redes de amizades mais fortes se sentem como se houvesse ali alguém para ajudá-las”, disse Karen A. Roberto, diretora do centro de gerontologia da Virginia Tech. “A amizade é um recurso subestimado. A mensagem consistente desses estudos é que amigos tornam sua vida melhor”.
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