Esquizofrenia

Esquizofrenia


Publicado em 5 de março de 1998

O conceito de esquizofrenia é utilizado, hoje em dia, como uma doença, quando na verdade ele foi designado para dar nome a um quadro onde existiam certos comportamentos bizarros ou relativamente fora dos padrões sociais e culturalmente aceitos.

Embora o conceito seja amplamente discutido, os especialistas são unânimes em enquadrar como esquizoides ou esquizofrênicos os indivíduos que apresentam insociabilidade, inadaptação, autodestruição impulsiva, emotividade imatura, distorção e retraimento nas relações interpessoais e em casos mais graves, alucinações e delírios.

O quadro que hoje, designamos por esquizofrenia, foi reconhecido em 1848 por John CONOLLY, no “Hanwell Asylum” da Inglaterra, o qual afirmou em suas “Crooniam Lectures” o seguinte e textualmente traduzido:

“Os jovens, com certa frequência, mergulham em um estado que, até certo ponto, assemelha-se à melancolia, sem que possa discernir qualquer causa de tristeza e, certamente, sem que haja qualquer mágoa específica; tornam-se indolentes ou prosseguem em suas ocupações ou recreações habituais mecanicamente e sem interesse; o intelecto, as feições, as paixões parecem inativos ou amortecidos e os pacientes acabam profundamente apáticos.”

Embora CONOLLY tenha feito a observação e o registro, foi apenas Eugene BLEULER quem, em 1911, designou para este quadro o termo esquizofrenia que significa divisão da mente

Epidemiologia
Através de estudos de MISHLER e SCOTH temos, estatisticamente, a comprovação de que esquizofrenia é a mais incidente das psicoses, pois 0,3% da população mundial pode estar sofrendo desta perturbação. A qualquer momento, 0,15% têm probabilidade de vir a sofrer desta patologia e 0,02% podem estar sendo internados, em virtude deste acometimento.

Etiologia
Como já discorremos anteriormente, a esquizofrenia é determinada por genes alelos autossômicos e recessivos, transmitindo-se de geração em geração, através do código genético.

Instalação da esquizofrenia
A idade de aparecimento vai desde o final da infância até a meia-idade, embora a maior incidência esteja entre o final da adolescência e o começo da idade adulta.

Tipos de esquizofrenia
a) tipos simples – neste tipo as perturbações estão ao nível de interesse, emoção e atividade, as alucinações são raras e passageiras, a instalação é gradual e assume a forma de empobrecimento da personalidade;
b) tipo hebefrênico – no tipo hebefrênico há uma regressão à personalidade infantil, o indivíduo passa a agir e a se portar como criança;
c) tipo catatônico – compreende 5% das esquizofrenias, caracteriza-se por estados de rigidez muscular total, apatia e indiferença social e ambiental;
d) tipo paranóide – no tipo paranóide, os sintomas mais evidentes são as alucinações e os delírios, as perturbações da associação e de afeto, lado a lado com o negativismo, o delírio de perseguição é o tipo mais encontrado na esquizofrenia paranóide.

Psicopatologia
Na esquizofrenia existem alterações específicas de estruturas mentais como afeto, atenção, pensamento e comunicação, percepção, impulso e ação e apresenta ainda certas formas adicionadas como ambivalência, negativismo e sugestividade:
a) distúrbios de afeto – na esquizofrenia há um embotamento dos sentimentos mais refinados e um insidioso e progressivo estreitamento de interesses;
b) atenção – o distúrbio de atenção na esquizofrenia é resultado do gradual desinteresse que toma conta do sujeito na evolução do quadro esquizofrênico, a energia dispensada aos interesses é agora difusa e por isso não há mais atenção;
c) pensamento e comunicação – normalmente, a acepção e associação de ideias seguem uma ordem lógica, mas no esquizofrênico não existe acepção de forma ordenada, decorrendo daí a recepção de várias ideias ao mesmo tempo, devido a isso, suas associações são prejudicadas e, em consequência, a elaboração de respostas e toda a comunicação ficam alterados;
d) percepção – na criança esquizofrênica ou nos pacientes em primeiro estágio da doença, os estímulos auditivos e visuais sensibilizam grandemente, enquanto nos casos profundos ou crônicos existe uma indiferença aos estímulos ambientais;
e) impulso e ação – as atividades impulsivas do esquizofrênico derivam em grande parte de uma carência de integração, de associação, afetos e desejos com a existência de objetivos incompatíveis, e com frequências mutáveis;
f) ambivalência – pode se manifestar através de uma mescla instável de amor e ódio, com variações de afeições e ódio, levando as vezes, a episódios impulsivos, existem certos casos em que os impulsos de morte, geralmente imperceptíveis, levam o paciente ao suicídio ou a um homicídio, a automutilação impulsiva é um tanto comum, especialmente, no caso de atividades masturbatórias do sujeito;
g) anergia – constitui-se na abstenção espontânea de atividade, é uma deterioração nos hábitos e pode ser considerada como uma retirada do mundo que ele, esquizofrênico, renuncia;
h) negativismo e sugestibilidade – o negativismo é uma das formas que o esquizóide utiliza para hostilizar o ambiente, negando-se, antagonicamente, a fazer aquilo que as pessoas esperam dele, a sugestibilidade embora em alguns casos se manifesta de maneira oposta ao negativismo, tem o mesmo objetivo e caracteriza-se por uma forma de copiar ou representar situações tais como repetições ou remedeios de atos de pessoas objetivando hostilizar ou chamar a atenção sobre si.

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