Psicopatologia

“Nasci mulher em um corpo de homem” ou “nasci homem em um corpo de mulher”…

O parágrafo acima não está ali por mero acaso ou provocação gratuita. Será discutido à luz das informações abaixo, resumidas do livro Psiquiatria Clínica, de Lawrence Kolb, psiquiatra Norte-americano, ex-professor emérito de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Colúmbia e falecido em 2006 e também dos estudos e teorias sobre a estrutura mental feitos por Sigmund Freud, Karl G. Jung dentre outros; de bioquímica e genética.

O que é psicopatologia?

Decompondo a palavra obtém-se: Psiquê significa mente, patós significa doença e logos traduz-se por estudo. Psicopatologia é, portanto, o estudo das doenças mentais.

Na ânsia em justificar a ideologia de gênero, uma excrescência que já se inicia no termo, tentam voltar aos tempos do pensamento mágico, da vontade “divina” ou do comando das reações orgânicas do organismo e do comportamento corporal pela vontade consciente da pessoa, como se não existisse todo um mecanismo bioquímico que opera a vida de todos os seres animados existentes no universo e que seguem regras físicas e bioquímicas rigorosas que a natureza levou milhões e anos desenvolvendo para dar aos organismos vivos estabilidade, adaptação e resistência ao meio ambiente.

Durante milênios os homens vêm se preocupando com os fenômenos da mente, em especial com os estados alucinatórios onde o sujeito, em surto, afirma estar em contato com deuses, espíritos ou demônios, fazendo, muitas vezes, seus semelhantes ou acreditarem nele e o venerarem, ou então, puni-lo e até mesmo eliminá-lo da sociedade por meio de banimento ou morte.

Os primeiros povos a atribuir uma causa orgânica aos distúrbios mentais, foram os egípcios. Acreditando eles que a loucura era causada por uma espécie de pedra (podendo ser o giro do cíngulo, pois, o mesmo apresenta aspecto caloso), surgida no cérebro dos doentes e, para acabarem com a doença, faziam verdadeiras neurocirurgias, das quais se tem comprovação pelo exame do crânio de múmias submetidas, a sua época de vida, a este tratamento e, conforme constatação da cicatrização óssea do campo operatório, o paciente havia sobrevivido ao ato cirúrgico. Esta teoria e modo de tratamento perdurou até a idade média.

Os gregos se contrapuseram à teoria egípcia dizendo que a causa da loucura era devida ao ambiente e à natureza e prescrevia como tratamento a internação em casas ou mesmo estâncias onde os doentes faziam exercícios, caminhadas, banhos em fontes térmicas, jogos e, especialmente, estudos e discussões filosóficas. Estes locais de tratamento foram os Asclépios, os primeiros hospitais de que se tem notícia.

Seguiram a esses dois pressupostos e métodos, séculos de discussões durante os quais duas correntes se digladiaram: a corrente organicista, de inspiração egípcia e a corrente ambientalista, de origem grega, até que ao final do século XIX Sigmund FREUD propôs uma teoria, a Teoria do Complexo de Édipo, que foi o ponto de partida para as mais recentes descobertas científicas.

A Teoria do Complexo de Édipo preconiza que a personalidade evolui em forma de fases ou estágios e, ainda teoria, que a personalidade tem três estruturas psíquicas. As estruturas são o ID, o EGO e o SUPEREGO, e os estágios são o complexo materno, o complexo de castração e o complexo paterno, respectivamente.

Ao nascer, a criança é um ser desprogramado e vazio, desprovido de aparatos de diferenciação e cognição, isso segundo a teoria de FREUD. Seus desejos são instintivos, a fome, o frio, o calor, a dor e a irritabilidade frente à agressões são comunicados de uma única forma, a qual a criança já nasce sabendo fazer, chorando.

Esta é a primeira fase do complexo materno, onde a criança reage apenas aos desconfortos físicos e cinestésicos, não discriminando pai, mãe, tio, avô, avó e outros. Ela nasce apenas com uma carga de impulsos biológicos, o ID. Aos poucos o bebê começa a discriminar os traços físicos da mãe e diferenciá-los dos outros e neste momento instala-se a relação bi-pessoal, onde a criança sente que a mãe é seu único meio de obtenção de prazer e também se acha o único objeto de prazer da mãe e, não tem pai, irmãos, ninguém mais. Esta etapa do complexo materno é denominada célula narcísica e aqui o ID emite os impulsos e estes são satisfeitos pela mãe.

Aos poucos, a criança começa a perceber que ela não é a única na vida da mãe, começa a perceber que tem pai e que a mãe também lhe dá atenção. No início a criança reage, mas acaba se conformando com a competição e passa para o segundo estágio. Nesta etapa do complexo materno, inicia-se a formação do ego, a formação da capacidade de decidir e executar por si mesmo as demandas do ID.

Se, ao reagir à competição pelo amor materno, os pais não mantiverem seu lugar no relacionamento e o competidor se afastar e deixar continuar o funcionamento da célula narcísica, o ego em formação se fragmentará dando, segundo a teoria, origem às psicoses. Mas, se a criança aceitou as regras da triangulação e consegue abandonar a célula narcísica, ela entra então no estágio do complexo de castração.

No complexo de castração, a criança aprenderá o não e introjetará os limites, sendo que isto já se iniciou com o abandono do complexo materno. Se a criança obtiver aprovação integral em tudo o que fizer, certo ou errado, por parte dos pais, ela não terá o senso interno, o senso de justiça, de propriedade e de lei. Pensará que tudo lhe pertence, pessoas e objetos. Que tudo ela pode fazer e tudo o que fizer está correto, e, se isto acontecer, instala-se, segundo as concepções da linha psicanalítica, a psicopatia, a mais grave das doenças mentais, pois, não tem cura, medicamento ou terapia e o resultado, geralmente, são crimes de furto, homicídios, latrocínios, violência sexual e muitas outras atrocidades.

Mas, se os pais impuserem os limites, o não, o certo, o errado, a lei, começará a se formar o sensor interno, o superego que tem por função, regular as demandas do ID e as possibilidades éticas, morais e legais de sua execução por parte do ego. Se isto acontecer, a criança entra no terceiro, último e mais doloroso complexo, o complexo paterno.

Após ter superado a frustração de entrarem outras pessoas na relação objetal com a mãe, após haver tolerado todos os nãos, não faça isso; isso não pode; é proibido; e muitas outras negativas limitantes, a criança agora terá ainda de suportar a frustração de, ao encontrar seu objeto de amor do sexo oposto, identificar-se com o genitor do próprio sexo para atrair o genitor do sexo oposto, terá de abandoná-lo e partir em busca de outro que não seja seu pai e sua mãe.

No complexo paterno consolida-se a identificação sexual e a criança começa a interessar-se pelos integrantes do sexo oposto, passando a copiar ou imitar o pai ou a mãe para atrair seu objeto de amor heterossexual ou mais precisamente: uma menina se apaixona pelo pai e para atraí-lo, utiliza o batom da mãe, calça o sapato da mãe, veste a roupa da mãe e imita os comportamentos e atitudes da mãe para conquistar o amor do pai. Se o genitor do mesmo sexo rivaliza a relação e começa a competir com a criança em seu amor incestuoso, ele estará reforçando a situação e dificultando a saída da criança do complexo de Édipo.

No complexo paterno a menina, por exemplo, ama o pai mas teme a hostilidade e o castigo da mãe e se houver ameaças concretas disso, pode surgir o pânico e o medo excessivo e instalar-se aqui a neurose fóbica que será projetada ou simbolizada em algum objeto, situação ou animal.

Se houver a rivalização e o castigo é imposto pela mãe à filha, pode surgir daí a neurose histérica.

Quando a criança se apercebe que a mãe é do pai ou que o pai é da mãe e ela tem que procurar um parceiro, sai do complexo de Édipo, levando consigo um resquício inconsciente da paixão incestuosa que experimentou na infância, o ciúme que é o resultado da frustração pela rivalidade do genitor do mesmo sexo, ou seja, aquele desejo de menina de que a mãe lhe desse o pai e por isso ela hostilizava a mãe, transforma-se no ciúme que poderá ser mais ou menos intenso, dependendo do grau de frustração enfrentado pela criança na perda do seu amor incestuoso pelo pai ou pela mãe.

A teoria de FREUD explica, hipoteticamente, grande parte da formação da personalidade e suas patias, especialmente os distúrbios neuróticos onde encontramos falhas no aprendizado do comportamento, mas não explica corretamente as psicoses endógenas, como veremos adiante, neste capítulo.

Conceitualmente, psicopatologia pode ser definido como o estudo das doenças da mente, pois psique significa mente, pathós traduz-se por doenças e logos significa estudo, sendo todos eles radicais de origem lingüística grega. A psicopatologia é a base da psicologia e da psiquiatria, pois todas as doenças mentais são enquadradas de forma sistemática e agrupadas de acordo com sua etiologia, padrão de personalidade, psicodinâmica e sintomatologia.

As doenças mentais se dividem em três grupos: psiconeurose, psicoses e psicopatias.

 

Neurose ou Psiconeurose

A neurose é basicamente uma doença do comportamento mal adaptado, desajustado ou mal aprendido. É fruto de situações frustrantes vivenciadas, nas quais houve o aparecimento de ansiedade, desilusão, medo ou pavor, distúrbios somáticos ou ainda em conjunção com desordens em algum órgão ou aparelho vital.

As psiconeuroses classificam-se em seis grupos, de acordo com a sintomatologia específica e a queixa principal mais frequentemente encontrada.

 

Neurose de Ansiedade

A neurose de ansiedade é o resultado da experimentação constante e intensa da mesma, acabando esta, sendo condicionada e passando a desencadear-se ao menor ruído estranho que o indivíduo perceba ou frente a situações muitas vezes prazerosas e seguras, mas que por intuição, o sujeito julga que tornar-se-á dolorosa e insegura.

A neurose de ansiedade se caracteriza pelos seguintes sintomas:

  1. angústia ou ansiedade constante;
  2. excitação e euforia constante, sensação de estar elétrico;
  3. insônia;
  4. preocupações constantes;
  5. temores excessivos;
  6. sintomas físicos:
    • sudorese;
    • taquicardia;
    • tremores;
    • anorexia ou hiperorexia, conforme o padrão de personalidade do indivíduo;
    • hiperpneia;
    • alterações psicossomáticas.

A etiologia da neurose de ansiedade pode estar ligada ao padrão de personalidade, educação recebida, hipersecreção de adrenalina ou comprometimentos cognitivos.

Caracteriza-se, basicamente, por uma dificuldade em lidar com o momento presente, o que produz uma sensação de desastre iminente ou medo intenso.

 

Neurose Depressiva

A neurose depressiva caracteriza-se, como a própria denominação expressa, por uma intensa depressão, associada à apatia e indiferença.

Sua sintomatologia consta de:

  1. a) tônus depressivo;
  2. b) egodistonia;
  3. c) humor baixo;
  4. d) falta de iniciativa;
  5. e) sensação de agressão pelo mundo exterior;
  6. f) insônia ou despertar precoce com sono interrompido ou pesadelos;
  7. g) sensação de auto acusação;
  8. h) culpa, a qual não sabe nem do que e muito menos porquê;
  9. i) anorexia mais pronunciada que no ansioso;
  10. j) diminuição do interesse sexual.

Caracteriza-se por uma perda interior relacionada com sentimentos de ambivalência.

 

Neurose Fóbica

Na neurose fóbica temos o quadro sintomático básico fundado nos medos (Fóbhosgr = medo).

Existem vários tipos de fobias:

  1. a) agorafobia ou medo de lugares abertos – pode ser consequência de experiências ansiógenas com o aparecimento de medo intenso em lugares abertos como campos, parques e outros;
  2. b) claustrofobia ou medo de lugares fechados – condicionamento de medo de lugar fechado como elevador, saunas, salas de reuniões pequenas e outras;
  3. c) zoofobia ou medo de animais – pode ser condicionado pela agressão sofrida por animal;
  4. d) acrofobia ou medo de lugares altos – pode ser ocasionado pelo medo de cair de algum lugar alto ou por medo ao ter viajado de avião.

Além destas, existem outras formas de neuroses fóbicas condicionadas, tais como a hidrofobia, a necrofibia e outras.

Não apenas o condicionamento pode determinar a neurose fóbica, mas também os deslocamentos de conflitos de um objeto desejado e proibido ou temido, mas aceito obrigatoriamente.

FREUD nos descreve o caso do pequeno Hans, ilustrando com clareza a fobia neurótica determinada por deslocamentos de conflito e ansiedade de uma situação de relação para uma situação simbólica, mas real.

Hans era um menino de aproximadamente seis anos de idade e estava atravessando o estágio paterno do complexo de Édipo, e como neste estágio o menino ama apaixonadamente a mãe e a deseja incestuosamente, passou a temer a hostilidade física e moral do pai. Temendo ser mutilado ou castigado pelo pai, este muito severo e autoritário e, ainda por cima, não podendo expressar sua frustração, ódio e medo deste pai, passou a deslocar o conflito e a transferir seu medo para algo que representasse e simbolizasse a hostilidade e severidade do pai e, para isso, Hans investiu sua fobia nos cavalos, pois, estes são agitados e agressivos, segundo sua concepção infantil.

A neurose fóbica eliciada por deslocamentos aparece na infância, mais especificamente, no estágio paterno do complexo de Édipo, enquanto as fobias neuróticas de condicionamento podem aparecer em qualquer época da vida.

Neurose Hipocondríaca

É a neurose caracterizada pela sensação de estar constantemente doente, possuindo os seguintes sintomas:

  1. mania de doença;
  2. sensações variadas à nível de órgãos;
  3. expressa ansiedade e dificuldade através de sintomas orgânicos.

Sua psicodinâmica está baseada num aumento da carga de representatividade dos órgãos e pode ser determinada por uma afecção orgânica de longa duração onde houve condicionamento fóbico daquela patia.

A hipocondria pode também ser um sintoma entre os muitos determinados pelo climatério masculino e feminino, especialmente, no climatério masculino, eliciado pelo medo da morte, que faz o homem apavorar-se frente a qualquer dor que apareça e a ingerir medicamentos desordenadamente e injustificadamente com efeitos, muitas vezes, desastrosos e maléficos para sua saúde.

Neurose Obsessivo-Compulsiva

Neurose caracterizada por ideações irracionais impostas ao consciente ou então constituídas de atos ritualísticos.

Obsessão é processo ideativo persistente e irreal, imposto ao consciente contra a vontade do indivíduo.

A obsessão pode aparecer em forma de dúvida, de surto de horríveis tentações, de obsessão de responsabilidade ou de repetições obsessivas.

Na forma de dúvidas, o indivíduo não confia nem em sua percepção, nem em sua memória.

Na forma de surto de horríveis tentações, estabelece todo um conflito em cima de um fato irreal e, montado nele, organiza atos ritualísticos para se livrar das ideias obsessivas que o atormentam. Um exemplo clássico deste tipo de obsessão é a superstição e seus rituais, os talismãs e adorações.

Na forma de obsessão de responsabilidade, o neurótico sente-se responsável por tudo o que pode acontecer, por danos à pessoas, bens materiais e, por isso, torna-se um eterno vigilante.

Na forma de repetições obsessivas, o indivíduo repete constantemente e para si mesmo, frases ou versos musicais que expressam a ideia que o persegue.

A compulsão é o ato ritualístico dito. É o ritual organizado partindo da ideia obsessiva, deslocando o conflito para situação real ou simbólica que irá aliviar o indivíduo de sua obsessão.

Na neurose obsessivo-compulsiva existe o emprego de formação reativa, ou seja, utiliza sentimentos de complexos afetivos diametralmente opostos, atitudes contrárias, tais como o desejo de sujar-se e a preocupação com a limpeza.

Na etiologia da neurose obsessivo-compulsiva temos o padrão de personalidade, os fatores ambientais e, basicamente, o conflito eterno entre controle e descontrole.

Psicanaliticamente falando, o obsessivo-compulsivo tem superego hipertrofiado e hiper-atuante que reprime quase todos impulsos do ID.

A neurose obsessivo-compulsiva pode, além de confundir-se com a esquizofrenia, camuflar os sintomas desta.

Neurose Histérica

A neurose histérica é a mais complexa e difícil de se diagnosticar e tratar, acometendo cinco mulheres para cada homem e pode ser fruto da repressão sexual no estágio paterno do complexo de Édipo.

A designação histérica vem do grego, pois, hysteron traduz-se por útero e como esta patia foi percebida entre as mulheres gregas já naqueles tempos, deu-se esta denominação para o quadro de sintomas peculiares apresentados por um grande número de mulheres daquela época.

Os gregos acreditavam que as mulheres acometidas por esta doença possuíam um útero com longos tentáculos, iguais a um polvo, capazes de alcançar o cérebro e perturbarem a personalidade.

Na neurose histérica encontramos dois grupos com sintomas característicos: neurose histérica conversiva e neurose histérica dissociativa.

Neurose histérica conversiva

Apresenta em seu bojo sintomatológico a negação, repressão, deslocamento, identificação e simbolização e caracteriza-se pela necessidade do neurótico em chamar a atenção sobre si, de seduzir, de vislumbrar e de conquistar a piedade dos outros, usando para isso, doenças com utilização de órgãos alvo, usa de comportamentos frágeis e delicados para atrair os outros.

Neurose histérica dissociativa

Caracteriza-se por uma crise sintomática composta, basicamente, de dupla personalidade, sonambulismo, escrita automática ou psicografia, transe mediúnico e evidenciando-se a projeção da personalidade que lhe é frustrante, em outra que agrade o indivíduo, a qual utiliza em lugar daquela que lhe é fonte de angústia e de ansiedade. Para melhor ilustrar esta patia, vamos utilizar um exemplo clássico: “Um indivíduo lutou grande parte de sua vida para conseguir graduar-se médico e não conseguiu. Sua personalidade própria não lhe agrada pois ela é de um perdedor, de uma pessoa que não conseguiu seu intento e, para aliviar esta ansiedade, ele assume a postura de personalidade de um médico, começa a projetar-se em uma personalidade dissociada na qual ele pode satisfazer o desejo de um dia ter se graduado médico, surgindo, com isso, o transe mediúnico, comumente chamado de incorporação do espírito de médicos do passado, como o polêmico doutor FRITZ.” A etiologia está vinculada ao Édipo e à imaturidade da personalidade.

 

Psicoses

Psicose é o nome dado à doença onde existe uma total desestruturação e fragmentação da personalidade, pois, psique significa mente e ose traduz-se por destruição.

Acredita-se que as psicoses, especialmente as endógenas, sejam frutos da não ruptura da célula narcísica do complexo materno do Édipo, mas as descobertas da genética, mais especificamente da citogenética humana e da genética de populações, demonstram que as psicoses endógenas são frutos de mutações cromossômicas ou de erros na transcrição das informações do DNA no RNA mensageiro, onde este recebe incorretamente os códigos daquele no que tange a codificação e produção de determinadas enzimas ou proteínas atuantes no sistema nervoso central.

Para verificar esta assertiva, fizemos um levantamento estatístico em vários grupos familiares onde a psicose estava presente e constatamos que se trata de uma herança autossômica recessiva. Autossômica por estar vinculada a cromossomos formadores do corpo e não predomina nem no sexo masculino nem no feminino, aparecendo nos dois; recessiva porque só aparece em homozigose, em presença de dois genes alelos condicionadores da anomalia.

Na psicose temos alterações profundas e importantes no pensamento, atividade, postura e atitudes gerais. Divide-se em dois grandes grupos: endógenas e exógenas.

Psicoses endógenas são aquelas não vinculadas a quadros orgânicos, tendo como causa mutações gênicas onde um determinado par de alelos mutantes determinam a codificação de proteínas que provocam alterações no funcionamento do centro límbico e áreas conjugadas ocasionando, além de anomalias estruturais deste, os distúrbios de personalidade qualificados como mórbidos.

Esquizofrenia

O conceito de esquizofrenia é utilizado, hoje em dia, como uma doença, quando na verdade ele foi designado para dar nome a um quadro onde existiam certos comportamentos bizarros ou relativamente fora dos padrões sociais e culturalmente aceitos.

Embora o conceito seja amplamente discutido, os especialistas são unânimes em enquadrar como esquizoides ou esquizofrênicos os indivíduos que apresentam insociabilidade, inadaptação, autodestruição impulsiva, emotividade imatura, distorção e retraimento nas relações interpessoais e em casos mais graves, alucinações e delírios.

O quadro que hoje, designamos por esquizofrenia, foi reconhecido em 1848 por John CONOLLY, no “Hanwell Asylum” da Inglaterra, o qual afirmou em suas “Crooniam Lectures” o seguinte e textualmente traduzido:

Os jovens, com certa frequência, mergulham em um estado que, até certo ponto, assemelha-se à melancolia, sem que possa discernir qualquer causa de tristeza e, certamente, sem que haja qualquer mágoa específica; tornam-se indolentes ou prosseguem em suas ocupações ou recreações habituais mecanicamente e sem interesse; o intelecto, as feições, as paixões parecem inativos ou amortecidos e os pacientes acabam profundamente apáticos.

Embora CONOLLY tenha feito a observação e o registro, foi apenas Eugene BLEULER quem, em 1911, designou para este quadro o termo esquizofrenia que significa divisão da mente

Epidemiologia

Através de estudos de MISHLER e SCOTH temos, estatisticamente, a comprovação de que esquizofrenia é a mais incidente das psicoses, pois 0,3% da população mundial pode estar sofrendo desta perturbação. A qualquer momento, 0,15% têm probabilidade de vir a sofrer desta patologia e 0,02% podem estar sendo internados, em virtude deste acometimento.

Etiologia

Como já discorremos anteriormente, a esquizofrenia é determinada por genes alelos autossômicos e recessivos, transmitindo-se de geração em geração, através do código genético.

Instalação da esquizofrenia

A idade de aparecimento vai desde o final da infância até a meia-idade, embora a maior incidência esteja entre o final da adolescência e o começo da idade adulta.

Tipos de esquizofrenia

  1. a) tipos simples – neste tipo as perturbações estão ao nível de interesse, emoção e atividade, as alucinações são raras e passageiras, a instalação é gradual e assume a forma de empobrecimento da personalidade;
  2. b) tipo hebefrênico – no tipo hebefrênico há uma regressão à personalidade infantil, o indivíduo passa a agir e a se portar como criança;
  3. c) tipo catatônico – compreende 5% das esquizofrenias, caracteriza-se por estados de rigidez muscular total, apatia e indiferença social e ambiental;
  4. d) tipo paranoide – no tipo paranoide, os sintomas mais evidentes são as alucinações e os delírios, as perturbações da associação e de afeto, lado a lado com o negativismo, o delírio de perseguição é o tipo mais encontrado na esquizofrenia paranoide.

Psicopatologia

Na esquizofrenia existem alterações específicas de estruturas mentais como afeto, atenção, pensamento e comunicação, percepção, impulso e ação e apresenta ainda certas formas adicionadas como ambivalência, negativismo e sugestividade:

  1. a) distúrbios de afeto – na esquizofrenia há um embotamento dos sentimentos mais refinados e um insidioso e progressivo estreitamento de interesses;
  2. b) atenção – o distúrbio de atenção na esquizofrenia é resultado do gradual desinteresse que toma conta do sujeito na evolução do quadro esquizofrênico, a energia dispensada aos interesses é agora difusa e por isso não há mais atenção;
  3. c) pensamento e comunicação – normalmente, a acepção e associação de ideias seguem uma ordem lógica, mas no esquizofrênico não existe acepção de forma ordenada, decorrendo daí a recepção de várias ideias ao mesmo tempo, devido a isso, suas associações são prejudicadas e, em consequência, a elaboração de respostas e toda a comunicação ficam alterados;
  4. d) percepção – na criança esquizofrênica ou nos pacientes em primeiro estágio da doença, os estímulos auditivos e visuais sensibilizam grandemente, enquanto nos casos profundos ou crônicos existe uma indiferença aos estímulos ambientais;
  5. e) impulso e ação – as atividades impulsivas do esquizofrênico derivam em grande parte de uma carência de integração, de associação, afetos e desejos com a existência de objetivos incompatíveis, e com frequências mutáveis;
  6. f) ambivalência – pode se manifestar através de uma mescla instável de amor e ódio, com variações de afeições e ódio, levando as vezes, a episódios impulsivos, existem certos casos em que os impulsos de morte, geralmente imperceptíveis, levam o paciente ao suicídio ou a um homicídio, a automutilação impulsiva é um tanto comum, especialmente, no caso de atividades masturbatórias do sujeito;
  7. g) anergia – constitui-se na abstenção espontânea de atividade, é uma deterioração nos hábitos e pode ser considerada como uma retirada do mundo que ele, esquizofrênico, renuncia;
  8. h) negativismo e sugestibilidade – o negativismo é uma das formas que o esquizoide utiliza para hostilizar o ambiente, negando-se, antagonicamente, a fazer aquilo que as pessoas esperam dele, a sugestibilidade embora em alguns casos se manifesta de maneira oposta ao negativismo, tem o mesmo objetivo e caracteriza-se por uma forma de copiar ou representar situações tais como repetições ou remedeios de atos de pessoas objetivando hostilizar ou chamar a atenção sobre si.

Esquizofrenia na infância

Existe muita controvérsia a respeito da semelhança ou da forma de manifestação entre a esquizofrenia no adulto r na criança, e baseado no que vimos, anteriormente, vamos enfocar apenas o essencial sobre a esquizofrenia infantil:

  1. a) etiologia – as causas são, da mesma forma que nas manifestações nos adultos, genéticas e herdadas cromossomicamente;
  2. b) diagnóstico – os critérios não se acham bem definidos, um dos critérios utilizados é o de Lauretta BENDER e estabelece que a criança esquizofrênica é regressiva, retardada, bloqueada, inibida, muda, autista, retraída, fisicamente astênica, insociável e incapaz de relacionar-se, enquanto outras apresentam exatamente o oposto;
  3. c) prognóstico – é sempre reservado, pois, depende do tempo de início, da forma da instalação e outros fatores.

Síndrome Bipolar ou Psicose Maníaco Depressiva

Neste tipo de psicose encontramos a mania e a depressão, geralmente juntas, mas em alguns casos, manifestam-se de forma isolada.

Tipo depressivo

Apresenta apatia, anorexia, insônia, irritabilidade, alteração senso perceptiva e alucinações. No pensamento apresenta confusão, fluxo ideativo com delírios de menos valia ou grande valia, autoacusação, sentimento ou delírio de ruína ou perda e ainda tendências ao suicídio, pois sua personalidade fragmentada lhe infringe um sofrimento insuportável. Denota também diminuição ou até extinção da libido.

 

 

Tipo maníaco

No tipo maníaco temos a tríade formada pelo aumento do fluxo de pensamento, a psicomotricidade e do humor. Acomete adultos jovens com idade limite de aproximadamente trinta e cinco anos, sendo quase impossível aparecer no adolescente.

Melancolia Involutiva

É um tipo de psicose que aparece após a quinta década de vida, ou mais precisamente, após os quarenta anos de idade.

Caracteriza-se por depressão constante e desestruturada, irritabilidade, ideias de menos valia e desrealização, queixas hipocondríacas, apragmatismo, anorexia, insônia e mais frequentemente, tendências ao suicídio.

Muitas mulheres, acometidas pela melancolia involutiva, apresentam histórico de puberdade e menarca tardias, geralmente acima dos quinze anos.

Psicoses Exógenas

São as psicoses desencadeadas por fatores externos, tais como contusões, envelhecimento, intoxicações ou infecções do tecido nervoso e do centro límbico.

Psicose traumática.

É desencadeada por contusões no crânio com sequelas no córtex motor e lobo límbico.

Psicose tóxica.

Eliciada por intoxicações ocasionadas por agentes químicos ingeridos, inalados ou absorvidos pela pele, por derrames de bilirrubina no período neonatal ou durante afecções hepáticas graves e também por intoxicações com medicamentos

Psicose degenerativa.

Psicose caracterizada pela atrofia ou degeneração do lobo límbico ocasionada por distúrbios na vascularização ou absorção de nutrientes. É comum em pessoas idosas sendo popularmente chamadas de estado de caduquice.

Psicose infecciosa.

Caracteriza-se pelo aparecimento de distúrbios psíquicos após doenças a vírus como parotidite, sarampo ou por bactérias como meningococcus, staphilococcus, streptococcus, bacilos e outros, que podem lesar o cérebro.

Os sintomas e manifestações das psicoses exógenas são os mesmos das psicoses endógenas e por isso descrevemos as mesmas de uma forma breve e sucinta.

Algo um tanto difícil para as pessoas leigas compreenderem é a diferença entre a neurose e a psicose. Pois bem, a neurose é caracterizada por distúrbios do comportamento mal adaptado cujas bases são adquiridas ou por condicionamento ou por problemas e incidentes ocorridos nas fases edipianas, enquanto a psicose difere da neurose por ser uma doença, uma síndrome na qual o comportamento não pode ser tratado pois não tem cura, quando na neurose todos os desajustes são tratáveis e curáveis.

Para melhor compreensão, vamos fazer uma grosseira analogia: o neurótico constrói seus castelos no ar, mas não habita nesses, enquanto o psicótico os constrói no ar e ainda mora dentro deles, e para eles o psicólogo ou o psiquiatra é aquele locador chato que vem cobrar o aluguel do castelo.

Outro exemplo esdrúxulo é o seguinte: numa operação matemática, para o psicótico dois mais dois é, sempre e sem sombra de dúvida, igual a cinco, enquanto para o neurótico os mesmos dois mais dois resultam sempre em quatro, mas, ele fica frustrado porque não pode ser cinco.

 

Disfunção Cerebral Mínima

Foi batizado em 1962 por PAINNE o quadro que apresenta manifestações tanto na esfera neurológica quanto na psíquica.

Na esfera neurológica apresenta síndrome coreineiforme, a qual se caracteriza por tremores e movimentos desordenados do esqueleto apendicular superior (braços); desajeitamento exagerado. O sindrômico é trapalhão e desajeitado em seus atos e atitudes; hiper-reflexia, reflexos exacerbados em um único membro; memória deficiente para formas e desenhos; deficiente noção espacial; inatenção táctil ou visual e eletroencefalografia fora dos padrões normais de variação para a idade, compatível com a disritmia cerebral, pois apresenta aumento na frequência das ondas cerebrais, não apresentando, no entanto, convulsões nem cefaleias.

Na esfera psíquica apresenta hiperatividade, a qual é o componente principal e que chama a atenção para a suspeita de DCM na criança; impulsividade; distração; tempo de atenção diminuído; baixa tolerância à frustração; preservação; padrões concretos de pensamento com dificuldade na abstração; discalculias e birras.

A síndrome de PAINNE está relacionada a uma herança poligênica, aparentemente holândrica, ligada ao sexo masculino que abrange:

  1. penetrância no sexo masculino;
  2. um tipo especial ou diferente de neurotransmissão ou acepção de estímulos no sistema nervoso central;
  3. as crianças DCM já nascem hiperexcitáveis, custando a dormir e respondendo paradoxalmente a qualquer tipo de calmante.

Muitos medicamentos produzem, quando administrados às crianças, sintomas condizentes com a disfunção cerebral mínima e isso pode até confundir especialistas pouco experimentados que, na hora de levantar a anamnese da criança, esquecem-se de investigar a ocorrência de outros tratamentos clínicos com utilização de medicamentos e rotulam a criança de DCM e a envia para tratamento psicológico sem que haja esta necessidade. Foi por este motivo que incluímos esta breve dissertação sobre os mecanismos sintomáticos básicos da disfunção cerebral mínima.

Matérias associadas:

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Referências bibliográficas:

GARDNER, E. J.; SNUSTAD, P. D. Genética. 7ª ed. Rio de Janeiro, 1987.

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