Cientistas contestam estudo sobre bactéria composta por arsênio

Há mais de meio século se pesquisa a composição e o funcionamento do material genético e durante todo esse tempo, como ninguém tinha encontrado, ainda, um organismo com composição diferente? Todo e qualquer experimento científico sério é feito usando-se métodos e equipamentos que fornecem resultados numéricos, em forma de gráficos, em traços de espectros, borrões ou manchas em determinadas posições de uma placa e etc, e as conclusões são formuladas a partir da interpretação desses achados e, por isso, é altamente provável que uma contaminação no meio de cultura tenha levado os investigadores a encontrar o arsênico no meio dos resultados emitidos pelos equipamentos utilizados. Leiam na matéria abaixo, transcrito do Globo.com a contestação de diversos especialistas na área que atestam a contaminação da amostra pelo arsênico.

Reportagem do site Slate consultou especialistas que reprovaram estudo. Material avaliado poderia ter adquirido o elemento químico por acidente.

Uma reportagem publicada nesta terça-feira (7) no site Slate traz críticas de cientistas ao estudo divulgado pela Nasa na última quinta-feira sobre uma bactéria que consegue viver com o elemento químico arsênio em seu DNA. O anúncio repercutiu na imprensa mundial pelo fato de todas as formas de vida até então conhecidas serem baseadas principalmente na combinação de apenas seis átomos básicos: carbono (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N), oxigênio (O), fósforo (P) e enxofre (S).

Para a professora de microbiologia Rosie Redfield, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, o trabalho denominado “Uma bactéria que consegue crescer usando arsênio em vez de fósforo” é “sem sentido”. “Fiquei impressionada com o nível ruim de ciência do artigo”, disse ao site. Ela pretende escrever uma carta à revista “Science”, que publicou o estudo, formalizando suas queixas.

Para o microbiologista Forest Rohwer, da Universidade Estadual de San Diego (EUA), especialista em novas espécies de bactérias e vírus em recifes de corais, a descoberta seria interessante, se fosse confiável. “Nenhum dos argumentos foi muito convincente”, disse o cientista. Já Shelley Copley, da Universidade de Colorado, vai mais longe. “O artigo não deveria ter sido publicado.”

Apesar das censuras, nenhum dos pesquisadores consultados pelo site negou a possibilidade de a estranha bactéria ser possível. Roger Summons, professor do Instituto Tecnológico de Massachussetts (MIT, na sigla em inglês) e um dos entrevistados, foi coautor de um estudo da Academia Americana de Ciências sobre vida extraterrestre que defendia a pesquisa em biologia com base em arsênio, publicado na “Science” em 2007.

Uma das críticas citadas refere-se ao método de retirada do DNA do micro-organismo utilizado pelos cientistas da Nasa, que deveria ter contado com precauções a mais para “limpar” o material de outras moléculas. Sem essas medidas, o arsênio pode simplesmente ter se atrelado ao DNA. “É bem trivial fazer um trabalho melhor que esse”, disse Rohwer.

Para o microbiologista Alex Bradley, da Universidade Harvard, os cientistas da Nasa demonstraram, sem querer, falhas na pesquisa. Ao fazer a imersão do DNA da bactéria GFAJ-1 na água para análise, os pesquisadores deveriam ter observado uma fragmentação do material genético, já que compostos com arsênio se desintegram rapidamente no contato com o líquido.

Bradley defende que o DNA manteve-se unido por causa da presença de fosfato, mesmo em quantidades reduzidas. O pesquisador lembra que micro-organismos crescem no Atlântico Norte com níveis de fosfato 300 vezes menores que os aferidos em culturas de laboratório.

Como os pesquisadores da Nasa utilizaram sais para alimentar as bactérias que, segundo eles próprios admitiram, continham pequenas doses de fosfato, os críticos acreditam que as bactérias usaram parte dessa provisão escassa do elemento químico para sobreviver.

Norman Pace, também da Universidade de Colorado, pioneiro na identificação de micro-organismos pela análise de DNA e coautor do trabalho divulgado há 3 anos, foi outro a não poupar críticas. “Níveis reduzidos de fosfato, investigadores ingênuos e revisores ruins fazem a história desse estudo”, disse.

A defesa
“Todo debate proposto deverá passar por uma revisão, da mesma forma que nosso artigo passou, com todas as discussões podendo ser moderadas corretamente”, disse Felisa Wolfe-Simon, do instituto de astrobiologia da Nasa e principal autora do artigo publicado na semana passada na “Science”.

Já Ronald Oremland, ligado a um órgão de pesquisa geológica norte-americano, disse que o debate sobre o estudo não pode descambar para um “fórum midiático”. “Se estamos errados, outros cientistas deveriam reproduzir nossos achados. Se estivermos certos, então nossos competidores nos aceitarão e nos ajudarão a compreender melhor esse fenômeno.”

A negativa de debater em público os resultados contestados não convenceu Jonathan Eisen, da Universidade da Califórnia em Davis. “Eles fizeram ciência por meio de notas para a imprensa e órgãos de mídia”, disse o pesquisador. “É um pouco hipócrita eles quererem basear sua defesa agora na literatura científica.”

De acordo com o site, a equipe da Nasa ofereceu a cultura de bactéria GFAJ-1 para testes que decidirão, de uma vez por todas, se o micro-organismo possui, de fato, um DNA sustentado com base no arsênio.

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